Você já deve ter percebido que é difícil falar de maconha sem falar nas suas duas principais espécies: Sativa e Indica. Mas, afinal, qual é a diferença entre os tipos de Cannabis? — É isso que esse artigo vai responder.


Sumário

  1. Origens dos termos Sativa e Indica
  2. Diferenças físicas Sativa x Indica
  3. Cultivo da Indica e da Sativa
  4. Efeitos da Cannabis Sativa e da Cannabis Indica
  5. Outro ponto de vista sobre a diferença de efeitos da Sativa x Indica
  6. Uso medicinal da Sativa e da Indica

Antes de mais nada, você precisa ter em mente que Cannabis é o gênero da planta. Então, assim como todas as plantas, existem espécies diferentes do mesmo gênero.

Então, Sativa e Indica são espécies do gênero Cannabis. Isso significa que, por serem plantas de diferentes espécies, também têm diferentes características.

Isso significa que essas espécies podem ter efeitos, concentrações de THC, formas de uso, utilidades diferentes.

Quem já está mais por dentro, pode deduzir: as Sativas dão um efeito mais energética e mental, enquanto as Indicas proporcional um efeito mais sedativo e corporal. Certo?

Na verdade, não necessariamente. Com o avanço das pesquisas científicas sobre esse tema, surgiu uma nova linha de raciocínio que deve acabar com o mito de que as Sativas te deixarão mais alegre e acordado, enquanto as Indicas te deixarão no sofá.

Pode até parecer estranho refutar um sistema de classificação que as pessoas usam há tantos anos.

Por isso, esse artigo tem o objetivo de esclarecer um pouco sobre as origens geográficas, as diferenças físicas, psicoativas, medicinais e de cultivo de cada uma das espécies da planta.

Ou seja, o intuito é quebrar paradigmas através de informação. No final, você saberá as reais diferenças entre Cannabis Sativa e Cannabis Indica. Vamos lá?

Origens dos termos Sativa e Indica

Foi no século XVIII que as pessoas passaram a usar os termos “Indica” e “Sativa” para descrever (e também distinguir) as diferentes espécies do gênero Cannabis.

Quem criou esses termos foi o biólogo Carl Linnaeus. O termo “Sativa, inicialmente, servia para se referir às plantas da Europa e do Oeste da Ásia, que eram cultivas apenas por suas fibras e sementas.

Ou seja, eram plantas que não produziam o “barato” da maconha.

Já o termo “indica”, usado pela primeira vez por Jean-Baptiste Lamarck, se referia às variedades da Índia, do Oriente Médio e de países tropicais.

Além de usarem as fibras e as sementes, essas plantas também serviam para produzir haxixe.

Os professores Robert C. Clarke e Mark D. Merlin publicaram em 2016 um estudo, em que mostram que todas as variedades psicoativas de Cannabis no mercado atual evoluíram da Cannabis Indica.

Assim, o que Carl Linnaeus classificou originalmente como Cannabis Sativa, hoje em dia, conhecemos como o cânhamo industrial.

Esse estudo tem algumas conclusões importantes que talvez você ainda não saiba:

  1. O que conhecemos hoje como Cannabis Sativa (ou seja, plantas altas, com folhas finas e alongadas), originalmente se chamavam Cannabis Indica ssp. indica e estavam em países de clima tropical, mais próximos à Linha do Equador.
  2. As plantas de menor estatura, com folhas mais largas e de tons mais escuros que hoje em dia se chamam Cannabis Indica, originalmente eram chamadas de Cannabis Indica ssp. afghanica e eram de regiões do Oriente médio, Índia e sul da Ásia.
  3. O que chamamos hoje de cânhamo se refere às variedades de uso industrial da planta, que não possuem níveis significantes de THC. Ou seja, o cultivo serve para extrair as fibras e as sementes. O cânhamo originalmente se chamava Cannabis Sativa, na Europa e no oeste da Ásia.

Isso nos leva a uma conclusão importante: a maioria esmagadora de plantas de maconha que consumimos hoje em dia se derivaram da Cannabis Indica.

No entanto, com a imensa variedade de híbridos e cruzamentos genéticos que temos atualmente, surgiu uma nova classificação: Sativa x Indica.

Apesar de gerar certo debate entre taxonomistas, essa nova divisão é bastante útil porque consegue separar de maneira simples e objetiva as duas variedades, a partir de seus tratos de cultivo, aparência física e efeitos.

Diferenças físicas Sativa x Indica

As diferenças físicas entre as espécies de Cannabis são bem marcantes e você não precisa ser um mestre cultivador para conseguir distinguir rapidamente uma variedade da outra.

Sativa x Indica
  • As plantas de Cannabis Sativa são mais altas, com folhas mais finas, menos adensadas e normalmente têm um tom de verde mais claro.
  • As plantas da espécie Indica são menores em estatura, têm folhas largas, com tons mais escuros e são mais arbustivas.
  • As Sativas têm flores menos densas, folhosas e seu cheiro tende a ser mais doce ou cítrico. As Indicas têm flores gordas e densas e seu cheiro varia bastante de acordo com a genética: de cheiros mais doces até alguns mais “mofados”.
Indica x Sativa

Sativa vs Indica (Fonte: Sensiseeds)

Cultivo da Indica e da Sativa

Um dos principais benefícios de cultivar a própria maconha é poder escolher qual das genéticas combina mais com você.

No entanto, cada variedade tem traços específicos de cultivo. Se você não tiver atenção nisso, pode acabar escolhendo uma planta que não é adequada para o seu espaço.

As espécies Sativas, Indicas e híbridas têm tempos de floração, rendimentos e cuidados diferentes. Você precisa considerar essas especificidades na hora de cultivá-las.

Mais do que isso, é importante ter em mente que cada genética tem efeitos e propriedades medicinais diferentes. Isso certamente deve ser levado em consideração na hora de fazer a sua escolha.

Cultivo da Cannabis Indica

A Cannabis Indica tem um ciclo de floração e uma estatura menor que as Sativas. Por esses dois motivos, muitos growers dão preferência a essa variedade.

Afinal de contas, é possível cultivá-las, de maneira fácil, indoor em razão do seu tamanho.

Além disso, por serem mais densas e terem ciclos de colheita mais curtos, também rendem mais flores.

De maneira geral, as características específicas de cultivo da Cannabis Indica são:

  • Ciclos de floração menores (45-60 dias)
  • Acostumadas com climas mais frios e secos
  • Mais baixas o que facilita o cultivo Indoor
  • Maiores colheitas por pé devido aos buds serem mais adensados

Cultivo da Cannabis Sativa

As Sativas têm origem nos países mais próximos à Linha do Equador. Isso significa que nasceram em climas com verões longos e invernos curtos.

O que isso nos indica é que essas plantas gostam (e muito!) da luz solar.

Além disso, elas são altas, compridas e demoram mais tempo para florescer. Normalmente, não são uma boa escolha para quem está cultivando pela primeira vez.

Afinal de contas, sua estatura pode dificultar o cultivo indoor e, dependendo do espaço disponível, pode ser necessário usar alguma técnica especial de poda para controlar o crescimento da planta.

Em resumo, as características da Cannabis Sativa são:

  • Ciclos de floração maiores (60-90 dias)
  • Mais adaptadas a climas quentes e úmidos
  • Alta taxa de crescimento vegetativo, o que acarreta em uma estatura elevada da planta. Plantas cultivadas outdoor podem chegar a mais de 5 metros de altura.
  • Flores mais leves e menos densas proporcionam um menor rendimento por plantas do mesmo tamanho, se comparado com a variedade Indica.

Efeitos da Cannabis Sativa e da Cannabis Indica

Como você já sabe, a espécie da planta também se relaciona aos efeitos que ela produz.

Atualmente, entende-se que a diferença entre os efeitos da Cannabis Sativa e da Cannabis Indica são as seguintes:

Efeitos da Cannabis Sativa

As Cannabis Sativa tendem a proporcionar um efeito mais revigorante, criativo e eufórico. Uma onda que combina bem com atividades sociais, físicas e artísticas. Algumas das strains mais famosas de sativa são: Sour Diesel, Purple Haze, Jack Herer.

Efeitos da Cannabis Indica

As Cannabis Indica têm efeitos mais sedativos e mais corporal. São perfeitas para relaxar, assistir um filme e dormir uma boa noite de sono. Alguns exemplos de strains são: Grandaddy Purple, Bubba Kush.

Efeitos da Cannabis Híbrida

As Cannabis Híbridas tendem a ser um meio-termo entre os efeitos da Indica e da Sativa. Os traços genéticos das espécies matriz definirão para qual lado os efeitos irão tender.

Alguns exemplos de genéticas híbridas são OG Kush, Pineapple Express, White Widow.

Efeitos Indica x Sativa
Sativa vs Indica: Efeitos (Fonte: Sensiseeds)

Outro ponto de vista sobre a diferença de efeitos da Sativa x Indica

Essa diferenciação dos efeitos é a mais popular entre as pessoas. No entanto, algumas pesquisas discordam da maneira como tratam essa diferenciação.

Na concepção de Ethan Russo, um neurologista cujas pesquisas em farmacologia canábica são reconhecidas mundialmente, essa distinção Indica x Sativa é um “absurdo total”.

Ele ressalta que é impossível prever os canabinóides presentes e os efeitos que cada planta causará apenas pela sua aparência física.

A proposta de Ethan é que as pessoas parem de usar o sistema Indica x Sativa e passem a se nortear pela concentração de canabinóides presentes em cada genética para dividi-las em grupos.

Confirmando as teorias de Russo, em 2015 pesquisadores da University of British Columbia e Dalhousie University desenvolveram um estudo para testar diferentes genéticas de Cannabis Medicinal para procurar por similaridades na origem e nos perfis químicos de cada uma.

Além de amostras de fibras de cânhamo, os pesquisadores compararam 83 linhagens ricas em THC provenientes de produtores licenciados e não conseguiram encontrar padrão algum em nenhuma das duas espécies das plantas.

Isso nos leva a duas conclusões:

  1. É possível usar a divisão Sativa e Indica para descrever traços de cultivo, padrões de crescimento, regiões de ocorrência e climas preferidos de cada espécie.
  2. No entanto, devemos tomar cuidado na hora de taxas os efeitos psicoativos e as propriedades medicinais de cada espécie.

Por consequência, isso nos leva a outra conclusão: nem todas as Sativas vão te proporcionar um efeito energético e criativo e nem todas as Indicas trarão efeito corporal e sedativo.

O que podemos notar, contudo, é uma tendência de as Indicas serem mais relaxantes e as Sativas revigorantes. Mas, veja, é apenas uma tendência. Jamais uma verdade absoluta.

A verdade é que não existe uma regra clara ou padrões químicos que comprovem esse tipo de efeito para cada espécie.

Uso medicinal da Sativa e da Indica

O primeiro passo para compreender a diferença entre os efeitos terapêuticos das espécies de Cannabis é saber o que são os canabinóides.

Os canabinóides são uma classe de compostos químicos presentes na Cannabis que ativam as proteínas que permitem a interação das substâncias da planta com o metabolismo das células humanas.

Em termos mais simples, são substâncias que interagem com o funcionamento do corpo das pessoas e são os principais responsáveis pelas propriedades medicinais e recreacionais da planta.

Dentre mais de 70 canabinóides presentes na maconha, os dois mais populares são o THC e o CBD.

O THC é famoso por ser o principal responsável pelos efeitos psicoativos da planta ou o “alto sentido” da maconha.

O THC pode reduzir as náuseas, dores crônicas, inflamações e problemas de espasmos musculares. Ele também pode aumentar o apetite e provocar bem estar.

No entanto, não dá para esquecer que, dependendo da dosagem e da pessoa, o THC pode causar efeitos colaterais, como, por exemplo, paranóia e ansiedade.

O canabidiol (CBD), por sua vez, é responsável por grande parte das propriedades terapêuticas e medicinais da maconha.

A lista de usos medicinais do CBD é vasta e, diferente do THC, estudos comprovam que ele quase não possui efeitos colaterais.

Alguns dos principais usos do CBD são no tratamento de:

Agora que conhecemos um pouco mais sobre os dois principais canabinóides, podemos relacioná-los com as duas diferentes espécies de Cannabis.

As variedades de Cannabis Indica normalmente têm um nível maior de CBD em relação ao THC, enquanto as variedades de Sativa têm mais THC em relação ao CBD.

Isso significa que as Indicas normalmente são indicadas para relaxar, reduzir o estresse, ajudar a dormir, diminuir a ansiedade e as dores crônicas.

Já as Sativas são indicadas para quem precisa de estimular o apetite, aliviar as dores e as náuseas ou apenas sentir bem-estar.

No entanto, como você já sabe, essa diferenciação é apenas um indicativo dos compostos que a planta pode ter. Na prática, você pode achar plantas Indicas com muito mais THC do que Sativas e vice-versa.

Conclusão sobre Indica e Sativa

Apesar do complexo emaranhado de genéticas disponíveis no mercado atual da Cannabis, com essas informações você já está um passo mais próximo de encontrar a que é perfeita para você.

Vale lembrar que se você acha que, por exemplo, Sativas te ajudam a dormir, não há porque mudar suas suposições com base no que outras pessoas classificam como padrão.

Assim como as variedades canábicas, cada pessoa é única e cara organismo reage de maneira diferente aos teores de canabinóides de cada espécie.

O importante é achar a genética que combina melhor com o seu organismo e parar de se preocupar com essas etiquetas.

Gostou do texto? Tem mais informações ou experiências que deseja compartilhar? Deixe seu comentário. Vamos gostar de conversar com você 🙂

Quais são as diferenças físicas entre Sativa e Indica?

As plantas de Cannabis Sativa são mais altas, com folhas mais finas, menos adensadas e normalmente têm um tom de verde mais claro e cheiro mais doce ou cítrico.
As plantas da espécie Indica são menores em estatura, têm folhas largas, com tons mais escuros e são mais arbustivas, com cheiros mais doces.

Quais as diferenças entre os efeitos da Cannabis Sativa e Cannabis Indica?

Não existe uma regra clara ou padrões químicos que comprovem a diferença de efeitos da Cannabis Sativa e Indica. O que podemos notar, contudo, é uma tendência de as Indicas serem mais relaxantes e as Sativas revigorantes e criativas.

Quais as diferenças entre o cultivo da Sativa e da Indica?

O ciclo de floração da Cannabis Sativa é de 60-90 dias, em climas mais quentes e úmidos, com alto crescimento da vegetação e flores leves e menos densas.
O ciclo de floração da Cannabis Indica é menor (de 45-60 dias), em climas mais frios e secos, com vegetações mais baixas e mais densas. O que proporciona mais colheitas por planta.