Qual é o estereótipo de maconheiro? — como a ciência está derrubando essa imagem com pesquisas

maconheiro

Qual é o estereótipo de maconheiro e o que a ciência está falando sobre isso.


Sumário

  1. Qual é o estereótipo de maconheiro e o que a ciência diz sobre isso?
  2. Realidade do uso de Cannabis
  3. Mitos e mentiras sobre maconheiro
  4. Pesquisas verdes sobre maconheiro
  5. Mas afinal, o que te faz um maconheiro?
  6. Sinais de vício
  7. Fatores de risco
  8. Opções de tratamento

Sejam eles maconheiros ou maconhistas (como muitos se chamam por aqui), é certo que o estereótipo de preguiçoso e esquecido os acompanha. 

A comunidade de pessoas que fazem o uso da Cannabis Sativa L, a famosa maconha, só aumenta, e felizmente, a boa e certeira ciência está desmificando os estigmas relacionados ao só uso.

Qual é o estereótipo de maconheiro e o que a ciência diz sobre isso?

Os prejulgamentos do “maconheiro” como alguém preguiçoso, dos quais as ambições se limitam a deitar no sofá, comer e fumar está sendo derrubado por ninguém menos que a Universidade de Cambridge.  

É o que mostra a pesquisa da estudante de doutorado Martine Skumlien, que desafia essa visão, mostrando que usuários regulares da cannabis não parecem ter uma motivação inferior em comparação com não usuários.

Em entrevista ao Washington Post, Martine conta que a pesquisa também não encontrou nenhuma diferença entre usuários e não usuários na motivação por recompensas, no prazer obtido com as recompensas ou na resposta do cérebro ao buscar recompensas. 

“Estamos tão acostumados a ver ‘maconheiros preguiçosos’ em nossas telas que não paramos para perguntar se essas são uma representação verdadeira e atual, […] Nosso trabalho implica em demonstrar que as pessoas que usam cannabis não têm maior probabilidade de falta de motivação ou de serem mais preguiçosas do que as pessoas que não o fazem.”

Ela adiciona que, embora o uso de cannabis possa se relacionara outros aspectos negativos, o estereótipo do maconheiro é “estigmatizante” e pode fazer com que as mensagens de redução de danos sejam menos eficazes.

Realidade do uso de Cannabis

A Cannabis é a terceira substância controlada mais comumente usada em todo o mundo, depois do álcool e da nicotina. 

Estudos notórios relacionados ao uso da erva tem sido realizados pela psicóloga clínica e pesquisadora Ilana Pinsky, vinculada à Fiocruz e membro da Abiad (Associação Brasileira de Estudo de Álcool e Outras Drogas), com um panorama amplo sobre a legalização da maconha e as concepções em torno do seu uso.

Pinsky destaca que um movimento abrangente de legalização da maconha ocorre em várias partes do mundo, como Uruguai, Canadá e alguns estados dos Estados Unidos. 

Com diferentes abordagens regulatórias, desde a venda em coffee shops na Holanda até a permissão do uso medicinal em diversos países, como no Brasil. 

Os dados apontam que o consumo está crescendo entre adultos, particularmente entre jovens adultos. Entre os adolescentes o consumo não aumentou, também não diminuiu. E essa é a grande preocupação da sociedade de pediatria aqui em nosso país. 

Só aqui no Brasil, segundo relatório da Kaya Mind, já temos mais de 430 mil pacientes realizam tratamentos com medicamentos à base de cannabis medicinal, um crescimento de 130% em relação a 2022. 

Para os próximos anos, a perspectiva é que o mercado da cannabis medicinal ultrapasse a marca de R$1 bilhão em 2024, se o setor continuar como está atualmente.

Mitos e mentiras sobre maconheiro

estereótipo de maconheiro
Campanha anti-drogas “Stoner Sloth”. Foto: Divulgação

O estereótipo do maconheiro é retratado em personagens fictícios como Danny, o traficante de drogas em “Withnail and I”, e Jesse Pinkman em “Breaking Bad”. 

A ideia de que o uso contínuo de cannabis leva a uma letargia abrangente foi uma base das campanhas públicas anti-drogas, como a campanha “stoner sloth” na Austrália.

Uma pesquisa do Canadian Cannabis Survey de 2022, mostra que entre 500 usuários apenas 7% acreditavam que o consumo da maconha piorava a performance no trabalho ou na escola e 5% relataram que o uso prejudicava as suas relações familiares. 

A má informação que as famílias e os jovens têm sobre os malefícios das drogas é um dos principais responsáveis.

Pesquisas verdes sobre maconheiro

Outro estudo da Universidade de Cambridge, envolvendo 274 usuários adolescentes e adultos de cannabis, que fizeram uso semanalmente nos últimos três meses (média de quatro dias por semana), e um grupo de não usuários pareados por idade e gênero, responderam a questionários para medir anedonia (falta de prazer) e apatia.

As perguntas se relacionam ao quanto eles gostam de estar com a família e amigos ou a probabilidade deles saírem do trabalho, ou não finalizarem o colegial. 

Os entrevistados que eram usuários de cannabis pontuaram ligeiramente menos em anedonia do que não usuários — aparentemente, têm mais facilidade em se divertir — mas não houve diferença em relação à apatia. 

Os pesquisadores também não encontraram ligação entre a frequência do uso de cannabis e a apatia ou anedonia nas pessoas que usaram cannabis. 

Todos os participantes estavam sóbrios durante o estudo e a possibilidade de que a motivação das pessoas diminua sob a influência da erva será investigada na próxima fase da pesquisa.

 A neurocientista Barbara Sahakian, da Universidade de Cambridge, observa: “Nossas evidências indicam que o uso de cannabis não parece ter um efeito na motivação para usuários recreativos. No entanto, não podemos descartar a possibilidade de que um uso maior, como visto em algumas pessoas com transtorno de uso de cannabis, tenha um efeito”.

Mas afinal, o que te faz um maconheiro?

Usuários de Cannabis podem e têm uma vida comum, assim como a de não usuários, como ícones musicais, dos esportes e de vários outros segmentos. Rihanna está sempre aí para nos lembrar que uma maconheira pode ser artista, cantora e bilionária, né?

Mas apesar do equívoco comum, pessoas podem sim se tornar dependentes de maconha, assim como de outras drogas, como álcool ou cocaína. 

O que pode definir se você está viciado pode flutuar por diversos fatores alarmantes, como quantidade, frequência e motivação de uso. 

As potenciais consequências do transtorno do uso de cannabis não são tão graves quanto com outras drogas, em que as mortes por overdose são uma preocupação séria, mas seu vício pode causar uma diminuição dramática na qualidade de vida do viciado. 

Sinais de vício

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria define o transtorno do uso de cannabis usando 11 critérios que se encaixam em quatro categorias de sintomas (os mesmos critérios diagnósticos se aplicam a todos os transtornos do uso de substâncias). 

Se você atender a pelo menos dois dos critérios abaixo, você se qualifica como tendo um transtorno do uso:

  • Perda de controle — Usar mais da erva ou com mais frequência do que pretende
  • Passar muito tempo do seu dia fumando cannabis
  • Tem um desejo quase incontrolável de fazer uso
  • Tentar parar ou reduzir o uso e não conseguir

Consequências interpessoais

  • Deixar de participar de outras atividades sociais ou recreativas para usar cannabis
  • Experimentar conflitos interpessoais como resultado do uso de cannabis

Não realizar obrigações no trabalho ou em casa como resultado do uso

Uso arriscado

  • Se coloca em situações potencialmente perigosas ao comprar ou usar cannabis
  • Continuar usando apesar de efeitos físicos e psicológicos negativos

Dependência física

  • Desenvolver tolerância — precisar usar mais da droga para obter o mesmo efeito
  • Experimentar sintomas de abstinência quando parar de usar cannabis, como insônia, irritabilidade, ansiedade, humor deprimido e diminuição do apetite

Fatores de risco

Existem alguns fatores de risco que podem aumentar a probabilidade de alguém desenvolver um transtorno do uso de cannabis. Um deles é começar a usar a erva na adolescência.

Em entrevista ao New York Times, o Dr. David Gorelick, professor de psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Maryland afirma: “O transtorno do uso de cannabis ocorre em todos os grupos etários, mas é principalmente uma doença de adultos jovens, há evidências de que quanto mais jovem for a idade em que você começa a usar maconha, mais rápido você desenvolverá o transtorno do uso de cannabis e mais grave ele será.”

Ter outro diagnóstico psiquiátrico, como ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático ou transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, também está associado a um risco aumentado. 

Uma possível razão para a sobreposição é que algumas pessoas se automedicam com cannabis, e quanto maior for o uso de uma pessoa, a probabilidade dela desenvolver dependência física é maior. 

Se você está fumando diariamente e em grandes quantidades, será difícil não desenvolver tolerância e abstinência, mas é possível não ter um transtorno do uso de cannabis e usar diariamente.

Opções de tratamento

Não existem medicamentos aprovados para tratar o transtorno do uso de cannabis, mas psiquiatras especializados em dependência às vezes prescrevem medicamentos que podem ajudar a aliviar os sintomas de abstinência, incluindo falta de apetite e insônia.

A maioria das intervenções para o transtorno do uso de cannabis envolve diferentes tipos de terapia, como terapia de aprimoramento motivacional e terapia cognitivo-comportamental. 

Essas terapias visam ajudar as pessoas a desenvolver estratégias de enfrentamento para lidar com desejos ou vontade de usar.

A ideia é realmente tentar descobrir qual é a motivação para você parar de usar excessivamente e fortalecer essas motivações. 

A terapia também pode ser útil para pessoas que lidam com problemas psiquiátricos que podem estar motivando seu uso exagerado. 

Moderação em tudo, né, galera? Vale lembrar que até alface em excesso faz mal!

Fontes bibliográficas