Cultivadoras, ativistas, artistas, advogadas, médicas, enfermeiras, produtoras de conteúdos, empresárias, pesquisadoras, há várias mulheres canábicas brasileiras das mais diversas profissões, falando sobre os benefícios da cannabis. Mas, quem são essas mulheres canábicas brasileiras e o que elas produzem? 

No dia internacional das Mulheres, 8 de Março, uma data tão histórica e importante para lembrarmos das lutas e dos direitos das mulheres, o Mapa Canábico destaca a relação entre as Mulheres e as flores, mas não qualquer flor, e sim as que dão onda. 

Qual a relação entre as mulheres e a cannabis? A relação entre as mulheres e a cannabis é uma relação ancestral. Há milênios de anos que os seres humanos usam a cannabis para diversos fins e para as mulheres o uso sempre trouxe vários benefícios, principalmente para a sua saúde ginecológica. 

O sistema endocanabinóide, responsável pelo funcionamento do nosso organismo, como regular o sono, apetite e humor, está presente também no sistema reprodutor feminino, portanto, o uso da cannabis pode servir a mulher muito além da onda. 

Elas na Saúde e na Ciência

Temos profissionais da área da saúde que produzem conteúdos sobre os benefícios da Cannabis para a saúde da mulher. A médica, Dra. Mariene Ventura, soteropolitana, especialista em Medicina de Família e Comunidade e pós-graduada em cannabis medicinal, além de atuar como médica, traz bastante conteúdo sobre a cannabis medicinal nas suas redes sociais. A enfermeira Stephane Lins Costa Santana, também soteropolitana e mais conhecida como Enfercanábica, também traz a cannabis medicinal para suas práticas de enfermagem e compartilha suas experiências e conhecimentos nas suas redes sociais. Outra mulher super importante na cena canábica, é a Dra. Lih Vitória, biomédica, especialista em genética. A Dra Lih Vitória, pesquisa e atua na perspectiva do uso da cannabis medicinal e combate o racismo na ciência. 

Elas cultivam sua cura

Muitas mulheres, em especial as mães, quando descobrem as potências da cannabis para tratar da sua saúde e/ou de seus filhos, se deparam com a dificuldade de ter acesso ao remédio. Algumas resolvem plantar no seu quintal e produzir seus próprios remédios. Como é o caso da @maeconheira, carioca, negra, mãe de adolescentes e que vive na França. Desde 2017 ela compartilha seu diário de cultivo no seu instagram. Se tornou uma referência brasileira no cultivo da cannabis. Atualmente ela tem 100 mil seguidores no instagram. 

Quando o assunto é mulheres cultivando cannabis e produzindo haxixe, Alice Reis, uma das fundadoras da Girls In Green, é referência. Em 2015, a Girls In Green surgiu com uma conta no Instagram buscando informações sobre cultivo da cannabis e extrações. A partir de então, foram trocando experiências e informações e compartilhando seus conhecimentos sobre Redução de Danos e Políticas de Drogas.

Elas comunicam e educam

E onde havia informações sobre o universo da cannabis? Em um cenário dominado por homens, onde as mulheres poderiam encontrar informações e trocar ideias sem medo de passar por constrangimentos?

Em 2011, quando tudo era mato, a comunicadora, maconheira e ativista, Nahbrisa, abriu caminhos para nós com sua língua afiada e jogou muitas sementes que até hoje florescem. A primeira youtuber canábica do Brasil, na cara e coragem, produziu muito conteúdo sobre maconha. Desde como bolar um beck a explicar como a maconha pode salvar o mundo. No youtube, Nahbrisa tem mais de 222k inscritos no seu canal. E no Instagram tinha mais de cem mil seguidores, porém sua conta foi derrubada três vezes. 

O site Mulheres Canábicas oferece os mais variados conteúdos sobre Mulheres, feminismo, Drogas, Proibicionismo. Assumem uma perspectiva feminista antiproibicionista e todos conteúdos são produzidos por mulheres. 

Maconha, uma questão ecológica

Nas redes sociais temos a mulherada jovem pertencente à Geração Z produzindo conteúdo sobre o universo canábico. É o caso da jovem advogada e ambientalista Isa Tami que cria conteúdos canábicos desde uma perspectiva ecológica e sustentável. Na sua rede social no Instagram, Isa Tami, também conhecida como a moça do cânhamo, já conta com mais de 50 mil seguidores. Tal como as outras mulheres canábicas, Isa ao comunicar e produzir conteúdo sobre maconha, também está educando o público.

Maconha, uma questão de Direito

Falar de Maconha é falar do proibicionismo e das suas implicâncias e consequências. Para mudarmos a Política de Drogas deste país, é necessário que os espaços jurídicos e legislativos sejam ocupados por pessoas que entendam a necessidade de uma Política de Drogas antiproibicionista e com Reparação Histórica. 

Nathália Oliveira, co-fundadora do Iniciativa Negra, é uma importante ativista e intelectual antiproibicionista que está somando na construção por uma nova política de drogas. 
As advogadas, Cecília Galício, Raquel Schramm e Bettina Maciel, são mulheres que há anos vem somando na luta pelo direito das pessoas usuárias da cannabis. Elas advogam pela causa da cannabis, desde o direito ao uso da cannabis medicinal, ao cultivo, a legalização da maconha. 

Elas Hempreendem

A maconha, uma planta essencialmente feminina, é multi potência. Além de oferecer benefícios para a nossa saúde, para a nossa beleza, para o nosso ambiente, a planta também é um meio de muitas mulheres hempreenderem. 

Num mercado ainda muito dominado por homens, as mulheres estão conquistando espaços e marcando sua presença no mercado canábico. Thainá Zanholo, fundadora da Nowdays é uma delas. Sua marca, fundada em abril de 2021, busca romper preconceitos e estigmas relacionados a maconha. 

A Xah com Mariaz, fundada em 2021 por Katia Cesana, “é a primeira empresa brasileira cannábica a ser acelerada pelo programa Pulse, da B2Mamy, em parceria com a Google for Startups. Essa iniciativa é dedicada ao empoderamento econômico feminino com equidade de gênero, construindo uma comunidade sólida de mulheres empreendedoras e proporcionando uma rede de apoio e suporte exclusivo para o mercado cannábico” segunda consta no site: https://xahcommariaz.online/

Elas Pesquisam

Como se inserir no mercado canábico diante do Proibicionismo? Parece contraditório, não é mesmo? Mas, o mercado canábico é mais diverso do que podemos imaginar. A indústria da Maconha vem crescendo no mundo inteiro e o Brasil tem todas as condições de ser a maior potência. Porém, a carência de dados sobre esse mercado, pesquisa e informações, dificulta que pequenas empresas tenham um bom desempenho no mercado canábico. 

Foi pensando nisso que Maria Eugênia Riscala desenvolveu a Kaya Mind. Fundada em 2020, a empresa Kaya Mind produz dados e análises de dados sobre o mercado canábico e auxilia outras empresas a desenvolverem seus negócios nesse mercado. 

Para além da pesquisa de mercado, temos outras mulheres canábicas pesquisando sobre a cannabis, seja na ciência, na saúde, na história, na antropologia. Luísa Saad, historiadora, doutoranda no programa de pós graduação da Universidade Federal da Bahia, publicou em 2019 sua dissertação de mestrado pela Edufba, o livro: Fumo de negro: a criminalização da maconha no pós abolição. Neste livro, a autora nos conta como foi a história da proibição da planta e traz documentos da época que nos revelam os verdadeiros motivos e autores da proibição da maconha no Brasil. 

Mãeconheira e Escritora

Em 2015, Maíra Castanheiro começou a publicar o Diário de uma Mãeconheira no Facebook. O que era um simples trocadilho de maconheira com mãe, uma brincadeira, acabou virando uma bandeira. 

Em 2019, Maíra Castanheiro, professora de história, perdeu a guarda da sua filha apenas por escrever e publicar os textos Diário de uma Mãeconheira. Neste mesmo ano, uma escola para contratar a Maíra, exigiu que ela excluísse seu blog do Facebook. Lutando pela guarda da filha na justiça e precisando do trabalho, Maíra excluiu seu blog. Entretanto, durante a pandemia, conheceu Lobo, da Brasa Editora, e assinou contrato com ele e em 2021, o Diário de uma Mãeconheira foi publicado em livro. Somente em 2023, Maíra conseguiu um acordo com o pai da sua filha e recuperou seu direito de morar com a filha. 

Desde 2015, Maíra Castanheiro publica em suas redes sociais seus textos do Diário de uma Mãeconheira. Seus textos se tornaram pontes entre diversas mãeconheiras que vivem realidades semelhantes. Questões sobre maternidade e drogas, feminismo, homens, trabalhos, são levantadas nos seus textos e geram muitos debates. Atualmente, Maíra Castanheiro está para lançar seu terceiro livro: Tornar-se Mãeconheira, um livro de ensaio sobre Maternidade e Drogas pela Editora Urutau. O livro faz parte da coleção Uma Mãe leva a Outra e já está em pré-venda até o dia 20 de março.

Maconha, uma questão de ativismo

Todo ano acontecem as Marchas da Maconha nas principais capitais do país. Os ativistas ocupam as ruas para chamar atenção da sociedade sobre a importância da legalização da Maconha. 

No Brasil, sabemos que as mães e mulheres estão na linha de frente nessa luta. Seja porque elas perdem seus filhos na guerra às drogas, seja porque perdem a guarda de seus filhos por serem usuárias e/ou criadoras de conteúdo canábico, ou mesmo porque reivindicam o direito de cultivar a cannabis no seu quintal para produzir o remédio e tratar da saúde de seu filho. 

A RENFA – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionista, é uma importante referência e protagonista, trazendo denúncias por meio de pesquisas e dados sobre drogas, encarceramento feminino e mulheres em situação de rua e vulnerabilidades sociais. A rede, atuante desde 2016, vem crescendo em todo o território nacional e pela América Latina, lutando pelo fim da guerra às drogas e implementando práticas de redução de danos.

Ainda poderíamos falar de várias mulheres canábicas que contribuem para o debate sobre a Legalização da Maconha, das mulheres cientistas e pesquisadoras, das ativistas e artistas, das cultivadoras, das empresárias e hempreendedoras, das mulheres que estão construindo uma nova política de drogas, das que estão rompendo tabus, das que estão sendo pioneiras, das que estão produzindo conteúdos e acreditam na educação, enfim, como a maconha é uma planta de múltiplas potências, ela atinge mulheres de diferentes profissões e atuações. 

Hoje, neste dia tão especial e importante para as mulheres, trouxemos algumas que representam a cena canábica. Mas, há muitas e muitas outras, cada uma com sua onda que quando se juntam é para sol mar. Cada mulher planta sua semente e suas ideias desabrocham e florescem. O jardim está repleto de flores e as jardineiras estão atentas e vigilantes.