Das montanhas do Himalaias aos rituais religiosos e medicinais, o Haxixe indiano é um dos mais tradicionais do mundo.

Você provavelmente já ouviu falar no Charas, essa é uma das formas mais antigas de fumar Haxixe do mundo. O Haxixe Indiano é artesanal e diferente dos outros hashs tradicionais. Outros aspectos também tornam esse tipo de hash muito especial, como os rituais, finalidades místicas e lendas que estão por trás da história do Charas.

Mas o que é o Charas exatamente, onde e como ele é produzido? Nesse texto vamos falar sobre essa forma ancestral de extrair a resina das plantas de maconha e seus diferentes usos, inclusive ritualísticos através do chillum.  

História do Haxixe Indiano

A cannabis é cultivada na Índia há milhares de anos, inclusive o país disputa com o Paquistão e Afeganistão o posto de berço da maconha. Isso porque, os pesquisadores ainda não tem uma resposta de onde surgiu a cannabis, mas sabem que foi em algum lugar da Ásia Central, mais precisamente entre o norte do Afeganistão e as montanhas dos Himalaias.

Pelos registros a Índia ganha a disputa. O país tem a menção mais antiga, que temos conhecimento, sobre cannabis. A história da maconha na Índia caminha lado a lado com a história da religião.  Os Vedas, textos sagrados hindus, compilados entre 2000 e 2400 a.C., já citavam a cannabis.

De acordo com os Vedas, a cannabis é uma das cinco plantas sagradas e um anjo da guarda vivia em suas folhas. Os escritos sagrados também ressaltam outras características da cannabis, como um libertador de ansiedade e uma fonte de prazer e alegria.

Existem três deuses pilares para a religião hindu e um desses deuses, Shiva, está presente em muitas lendas sobre a Cannabis. Existem também algumas pinturas de Shiva tomando uma bebida feita de ervas e cannabis, conhecida como Bhang e muito popular na Índia. Além de promover uma conexão espiritual e ser usada em rituais, o bhang também tem um uso medicinal muito potente. É uma bebida poderosíssima para combater a dor. 

A tradição e uso da cannabis foi passada de geração em geração, presente em rituais religiosos ou como medicamento, na forma de bhang, flor ou charas. No século XIX a Índia também foi um dos países pioneiros a começar produzir estudos relacionados à cannabis. 

O The Indian Hemp Drugs Commission foi criado em 1894 para investigar os efeitos colaterais da cannabis, principalmente relacionados à psicose e, após anos de estudos,  publicou seis volumes de dados conclusivos.

Segundo o detalhado trabalho do The Indian Hemp Drugs Commission, a cannabis não causa psicose ou outras alterações neurocerebrais se usada com motivação. Além disso, o uso de álcool causa muito mais danos. Sendo assim, os estudos concluem que a proibição de cannabis seria injustificável e que seu uso era cultural e muito importante entre os hindus.

Na contramão do proibicionismo: o papel da Índia na história das drogas

A primeira menção proibicionista aconteceu em 1912 na Convenção Internacional do Ópio pelos Estados Unidos. Os norte americanos se mostraram preocupados com o uso da maconha em seu país e queriam medidas internacionais de proibição. 

A Índia se posicionou contra, pois alegou o uso cultural e religioso da cannabis em seu país e lutou pelo antiproibicionismo em todas as discussões internacionais e, ainda que tenha perdido a luta e cedido a proibição da exportação, produção e uso da maconha na Convenção Única sobre Drogas de 1961 em Nova York, o uso de cannabis e charas na Índia é tolerado.

Como é produzido o Charas

Haxixe Charas
Foto: Buzzing Bhudda

O charas é uma extração da cannabis feita à mão e diferente de todos as outras formas de haxixe. Enquanto o Bubble Hash, o Dry Sift e o Haxixe afegão são resinas feitas dos tricomas das flores secas, ou congeladas no caso do fresh frozen, o charas é uma resina extraída de toda a planta viva. 

Para fazer o charas é necessário apenas das suas mãos. Limpas! O processo para a extração do charas é lento e trabalhoso, mas como qualquer artesanato deve ser feito com amor e paciência para obter bons resultados.

Basicamente é preciso espremer as flores fêmeas vivas até a resina da cannabis grudar nos dedos e nas mãos. Depois é preciso juntar esse óleo e manusear a resina até que ela ganhe uma forma, se tornando uma massa.

Depois é preciso esfregar as mãos formando um bastão de charas. É importante não colocar muita força enquanto está apertando à planta e quanto mais devagar esfregar as mãos, mais qualidade terá o Haxixe. Todas as etapas de produção devem ser feitas com muito cuidado.

A genética, além da forma de extração, também tem impacto na qualidade do Hash. Para  fazer o Charas é usada Cannabis Indica, das genéticas dos Himalaias. As mais conhecidas e indicadas para fazer esse tipo de hash são Kush, Critical e Widow.

Principais características do Haxixe Indiano

O charas ou Haxixe Indiano é preto por fora, verde escuro ou marrom por dentro.

  • Consistência: Esse tipo de haxixe é muito macio, consegue ser manipulado facilmente assim como o afegão. Às vezes pode ser meio esfarelado, porém é sempre bem denso.
  • Potência: Extremamente potente. O charas tem uma altíssima concentração de canabinóides podendo chegar a até 40% de THC em alguns exemplares. O charas original sempre será um excelente fumo. 
  • Os efeitos do Charas são bem parecidos com o da maconha, mas como a concentração de THC é muito maior, é necessário ter mais cuidado na hora de fumar e prestar atenção nas doses.
  • Disponibilidade: Muito raro. De tempos em tempos alguma pequena quantidade fica disponível no mercado. Por causa disso, o preço sempre é bem elevado. Normalmente é vendido em “palitos” alongados de haxixe.

Como consumir o Charas: Os rituais indianos

Consumir o chara para um indiano é um ritual muito importante, normalmente usado em cerimônias religiosas, mas mesmo quando feito para fins recreativos, a arte de fumar é ritualizada. 

A conexão que a planta fornece é muito valorizada pela cultura hindu. Tradicionalmente o Haxixe Indiano é consumido por meio do Chillum, um tipo de cachimbo de madeira, muito mais longo que o comum. 

O Charas é colocado na ponta do Chillum, algumas vezes com ganja ou tabaco misturado e fumado, normalmente ajoelhado ou agachado e em uma roda. Além do ritual para fumar, há uma tradição que não se pode comprar o próprio Chillum, que é um objeto para presentear alguém. 

É possível fumar o charas enrolando um baseado convencional, mas a forma mais comum e para apreciar a substância é através do Chillum. Para enrolar no baseado, assim como os outros tipos de Haxixe é necessário misturar com a flor da cannabis ou com tabaco.

Sempre é bom enfatizar algumas estratégias de redução de danos, ou seja, práticas que tornam o ato de fumar menos nocivo para a nossa saúde e bem estar físico e mental. Quando pensamos em reduzir danos ao fumar maconha, a primeira coisa que deve ser levada em consideração são os materiais usados para bolar o beck.

Isso quer dizer que a escolha da seda é super importante e o uso de piteiras mais ainda. É recomendado o uso de piteiras, enquanto mais longas melhor, pois a piteira resfria a fumaça e filtra impurezas derivadas da combustão da cannabis. 

Espero que essa viagem pelas montanhas dos Himalaias tenha trazido aprendizado e inspiração para vocês! E porque não presentear um maconheiro querido com um Chillum para degustar um charas no melhor estilo indiano?

FONTES

https://geaseeds.com/blog/pt-pt/tudo-sobre-o-charas/

https://www.psychologytoday.com/us/blog/the-teenage-mind/201106/history-cannabis-in-india