CannaDouro – Feira Internacional de Cânhamo do Porto aconteceu nos dias 19 e 20 de Novembro. Em foco o debate sobre a legalização da Cannabis e seus múltiplos usos.

O consumo de todas as drogas em Portugal foi descriminalizado desde 2001, mas isso não significa que é legalizado, o usuário ainda pode ser penalizado.

Consumir substâncias psicoativas ilícitas deixou de ser alvo de processo-crime, passando a constituir uma contra-ordenação social, com apresentação da pessoa a uma comissão de dissuasão, de acordo com o site do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) de Portugal.

Por lei, a quantidade definida no País para consumo próprio é abaixo de cinco gramas de haxixe e 25 gramas de cannabis, mas essa informação gera confusão nas abordagens policiais pela questão de não saberem se essas quantidades são para se ter em casa ou portar na rua.

Esse tipo de confusão ocorre não somente em Portugal como no mundo todo, as informações em torno da planta e do que se pode ou não vivem sempre em uma zona cinzenta. Mas o uso medicinal, liberado entre 2018 e 2019, que estabelece o quadro legal para a utilização de medicamentos, preparações e substâncias à base da planta da cannabis para fins medicinais.

Fazendo com que seja possível lojas no país que vendem óleos, cosméticos, suplementos alimentares e outros produtos feitos de cannabis. Foi nesse cenário que surgiu o mercado de CBD e cada vez sendo mais importante debater sobre a planta.

E foram nos dias 20 e 21 de novembro que aconteceu a 5 ° edição da Cannadouro – Feira Internacional de Cânhamo, na cidade do Porto em Portugal. O evento é uma mostra anual de empresas, marcas e produtos, com a presença de associações e um ciclo de conferências, que conta com muitos ativistas brasileiros que fazem a cena girar.

O evento tem como compromisso promover o debate público dentro da sociedade civil em torno da utilização do cânhamo em três vertentes: industrial, recreativa e medicinal.

Sendo realizado desde 2017 sempre em Novembro e no último fim de semana do mês. Desde a 1ª edição a Cannadouro tem se firmado como o local de encontro da cultura canábica em Portugal e de toda a faixa atlântica da Península Ibérica, recebendo cada vez mais visitantes da Galiza, e de inúmeros outros lugares. Além disso, Porto é hoje uma das cidades mais visitadas na Europa, de acordo com a imprensa europeia.

Palestras do Cannadouro

As Conferências da Cannadouro foram planejadas para oferecer aos visitantes informação acerca do uso agrícola, industrial, recreativo, terapêutico e medicinal da cannabis, apostam nesta edição no “relançar da indústria do cânhamo em Portugal”.

No primeiro dia várias palestras, internacionais e nacionais, de várias áreas abordaram o tema do cânhamo agroindustrial que tratam questões como “a utilização do cânhamo na ecoconstrução, a reativação e relançamento do cultivo e das atividades relacionadas com o aproveitamento da fibra, palha, sementes e biomassa de cânhamo” bem como a “divulgação e promoção de desenvolvimento rural, assentes na economia local e circular que utilize recursos naturais renováveis”.

O segundo dia teve como foco a utilização da cannabis a nível terapêutico, medicinal e recreativo, lembrando a organização que “apesar do acesso à cannabis medicinal ter sido legalizado em Portugal em 2018, o acesso real continua a acarretar vários problemas”.

O destaque vai para a luta pelo acesso à cannabis medicinal, apresentada por Maria João Rezende e Paula Mota, do Movimento Mães pela cannabis. A farmacêutica brasileira Adriana Ribeiro traçou um paralelo da ligação entre os movimentos de mães cultivadoras dos dois lados do Atlântico, Brasil x Portugal, e a presidente da Associação Portuguesa de Informação sobre Canábis, Soraia Tomas, intervém sobre a modulação do sistema endocanabinóide nas perturbações do espectro do autismo.

Houve também conferências sobre auto cultivo e fabricação caseira de óleo de cannabis, entre outros temas.

Lembra, a propósito deste tema, a organização da Cannadouro o “papel fundamental de luta de estruturas como o ‘Movimento Mães pela Cannabis’ e ‘Mães Jardineiras’, que trabalham em torno da importância da utilização da planta nas perturbações do espetro do autismo, com vários casos de sucesso já comprovados, que continuam a estar impedidos de aceder às terapias de que necessitam”.

A feira no Cannadouro

Na zona comercial, mais de 60 empresas nacionais e internacionais mostraram marcas e novos produtos ao mercado português. Na zona Associativa várias associações e movimentos disponibilizam informações aos visitantes, e tentam inverter os efeitos nefastos do proibicionismo, informando em relação à redução de riscos e defendendo os direitos dos pacientes de cannabis medicinal, que continuam a estar impedidos de aceder às terapias de que necessitam.

Na zona cultural estavam instalações artísticas e exposições fotográficas em torno da planta de canábis. A zona exterior da feira é onde a celebração acontece e a organização não se esqueceu do conforto e divertimento dos visitantes: street food, Vape Lounge para relaxar e um palco onde houve várias apresentações ao longo dos 2 dias.

Novidades da Cannadouro 2022

Em 2022 a Cannadouro decidiu apostar numa novidade, dedicando o primeiro dia das conferências exclusivamente ao cânhamo agro-industrial através de um novo evento a que chamou Cannadouro Hemp Meeting, um dia de palestras com conferencistas internacionais de várias áreas dentro da fileira do cânhamo industrial.

A utilização do cânhamo na eco-construção é o tema escolhido para esta 1ª edição, por se tratar de “uma solução que está a ter grande aceitação e permitir escoar de forma imediata a palha de cânhamo, até agora considerada um subproduto”.

A escolha do tema, diz o diretor da feira, João Carvalho, foi feita “por se tratar de uma solução que está a ter grande aceitação e permitir escoar de forma imediata a palha de cânhamo, até agora considerado um subproduto”.

Entre outros conferencistas, participaram os arquitetos Francisco Adão da Fonseca e Monika Brümmer, o presidente da cooperativa Lusicanna, Hugo Monteiro, o diretor da Canhamor, a única fábrica de blocos de cânhamo em Portugal, Elad Kaspin, e o arquiteto Duarte Capa e Jorgen Hempel apresentaram o sistema Hemp Eco, que promove o uso de biomateriais na construção e isolamento.

HHC, novo canabinóide na feira

O que os entusiastas do cânhamo acham mais empolgante é o fato de que ele se comporta com semelhança ao Delta-9 por conta da estrutura química. Relatos de usuários descreveram os efeitos do HHC como algo entre o Delta-8-THC e o Delta-9-THC.

O HHC não foi amplamente estudado, mas houve algumas pesquisas promissoras. Um estudo de 2011 mostrou que alguns análogos sintéticos do hexahidrocanabinol (HHC) inibiram a angiogênese induzida por células de câncer de mama e o crescimento do tumor

Pesquisadores japoneses publicaram um artigo em 2007 descrevendo a impressionante capacidade de bloqueio do HHC em dores com testes em camundongos. Mas faltam muitos estudos e testes para dizer se o HHC é uma grande promessa, porém já se mostra muito promissor.

Se o HHC permanecer legalmente viável, e especialmente se o custo x benefício for ideal para um produto de alta qualidade, esse canabinóide se tornará mais disponível no mercado diversificado de cannabis, dando mais opções para pacientes.

Até o próximo ano

Sem dúvida nenhuma a feira foi um sucesso, foram explorados todos os lados da planta. Portugal caminha para um futuro extremamente promissor com a sua indústria e o que se pode notar foi um público diverso com um amor único pela planta, como tem que ser!