Existe alguma relação entre maconha e impotência sexual? Fumar maconha pode fazer com que homens “brochem”? Entenda quais são os efeitos da Cannabis nas relações sexuais e tire suas dúvidas sobre o tema. 


Sumário

  1. A teoria por trás da relação entre o uso da maconha e impotência sexual
  2. Associação entre uso de maconha e a frequência sexual
  3. Uso da maconha e alteração do DNA em esperma
  4. Uso da maconha e tratamento para disfunção erétil
  5. Fatores de estilo de vida e a disfunção sexual
  6. Uso de substância psicoativas e problemas de ereção
  7. A relação entre o uso de maconha antes do sexo e a função sexual em mulheres
  8. Mas, afinal, qual é o posicionamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos?

Não é novidade que o proibicionismo se fortaleceu em torno de boatos sobre a maconha. Isso também dificultou o desenvolvimento de pesquisas científicas sobre os usos e os efeitos da Cannabis.

Muitos países ainda proíbem a maconha e dificultam que a ciência responda a esses questionamentos. No entanto, 35 estados dos Estados Unidos legalizaram o uso medicinal da cannabis, enquanto 16 estados também legalizaram o uso recreativo.

Por isso, nos últimos anos, mais cientistas passaram a pesquisar sobre a Cannabis. Inclusive, sobre o impacto de seus efeitos nas relações sexuais.

Não existem dúvidas de que o THC, um dos fitocanabinóides da Cannabis, causa efeitos psicoativos. Mas em relação ao desejo sexual, existem muitas informações contraditórias.

De um lado, algumas pessoas acreditam que fumar maconha causa impotência sexual nos homens.

Por outro lado, algumas pessoas acreditam que fazer sexo chapado é mais intenso. Não por menos, algumas mulheres gostam de usar lubrificante de cannabis.

É aí que surge uma questão importante: “afinal de contas, a maconha favorece a impotência sexual ou estimula o prazer?

Para responder a essa questão, o objetivo desse texto é apresentar e refletir sobre o que dizem os estudos mais recentes sobre a maconha e a impotência sexual. Vamos lá?

A teoria por trás da relação entre o uso da maconha e impotência sexual

Em primeiro lugar, a impotência sexual masculina (ou “brochar“) consiste na dificuldade em ter ou manter uma ereção do pênis.

E já adianto: não existem evidências científicas suficientes para vincular os efeitos da maconha à impotência sexual — muito embora existam algumas teorias por trás disso.

De forma geral, a teoria principal relaciona o efeito de relaxamento da maconha à impotência sexual.

Isso porque os receptores canabinóides estão presentes no tecido muscular liso do pênis. Nesse perspectiva, a teoria é de que o THC seria capaz de causar impotência.

Além do mais, alguns efeitos colaterais da maconha (como complicações cardiovasculars, por exemplo) também poderiam aumentar o risco de disfunção erétil.

Outro fator que leva à essa sugestão se baseia no fato de que que fumar cigarro, conforme comprovado em vários estudos científicos, prejudica a ereção. Nesse caso, o motivo é que o tabaco restringe o fluxo sanguíneo para as veias e artérias.

Dessa maneira, muitas pessoas associam os efeitos do cigarro aos efeitos da maconha. Mas, o que a ciência recente diz?

Bom, separei alguns estudos e o posicionamento de uma entidade dos Estados Unidos para esclarecer essa questão.

A influência da Cannabis na função e satisfação sexual

Um estudo de 2023 analisou a influência da maconha na função e satisfação sexual em homens e mulheres. A pesquisa foi realizada com 811 pessoas a partir de um questionário aplicado online. Mais da metade das pessoas relataram usar maconha diariamente.

Em relação aos resultados, a maior parte das pessoas que participaram relataram que a Cannabis aumentou o desejo, sendo isso mais comum entre as mulheres. Os homens não relataram dificuldade de manter a ereção quando fizeram uso da planta.

Também relataram um aumento da intensidade do orgasmo, com as mulheres afirmando a maior facilidade de múltiplos orgasmos.

Entre as pessoas que participaram, a afirmação de que a maconha intensifica alguns sentidos se mantém, mais de 70% disseram que ela melhorou a sensação do toque e também o sabor. O que é excelente para o momento.

De forma geral, relataram um aumento da satisfação sexual quando fizeram uso da planta. O aumento do desejo e dos orgasmos podem se relacionar com a maior capacidade de relaxar, o que é fundamental para curtir o ato.

Associação entre uso de maconha e a frequência sexual — novembro de 2017

Vamos começar com um estudo publicado no Journal of Sexual Medicine. Nessa pesquisa, o objetivo foi esclarecer se existe uma relação entre o uso da maconha e a frequência sexual em homens e mulheres em idade reprodutiva.

A análise compreendeu 28.176 mulheres e 22.943 homens dos Estados Unidos, através de um questionário do Centro de Controle de Doenças (CDC) do país.

É bastante frequente que pessoas pesquisadoras usem a ampla e abrangente pesquisa do CDC, especialmente para análises mais específicas como essa.

O trabalho foi realizado por Dr. Michael L. Eisenberg e Dr. Andrew J. Sun, filiados ao Departamento de Urologia da Universidade de Stanford, na Califórnia.

Os resultados dessa pesquisa científica não encontraram relação entre impotência sexual e a Cannabis. A pesquisa indicou que o uso de maconha não prejudica a vida sexual das pessoas usuárias.

Pelo contrário, em todos os grupos, gêneros e faixas etárias, as pessoas usuárias de maconha relataram ter 20% mais sexo do que aquelas que nunca usaram maconha.

Especificamente em relação à impotência masculina, o estudo trouxe implicações clínicas de que a Cannabis não prejudica a função sexual tanto quanto o álcool.

Além disso, não há contra-indicações de misturar maconha com outras drogas para melhorar o desempenho sexual como, por exemplo, o Viagra ou o Cialis — diferente do álcool.

Os mesmos pesquisadores analisaram especificamente a relação entre a planta e os homens em um novo estudo. Mais uma vez, os resultados constataram aumento do desejo e da satisfação sexual.

Com a participação de 325 homens, analisaram a função sexual masculina a partir do questionário internacional de Índice de Função Erétil (IIEF), citando também mais adiante no texto. 

O estudo constatou que, conforme aumentou a frequência de uso da maconha, também houve um aumento da função sexual.

Uso da maconha e alteração do DNA em esperma — dezembro de 2018

Em outra pesquisa dos Estados Unidos, o uso de Cannabis foi associado a uma concentração significativamente menor de espermatozóides em ratos e humanos.

No entanto, o estudo possui algumas limitações, especialmente porque foi aplicado em uma pequena quantidade de pessoas. Foram apenas 24 homens entre 18 a 40 anos de idade.

Os pesquisadores fizeram teste de urina para certificar que os participantes não usaram drogas ou tabaco em um tempo recente.

No entanto, isso mostra que eles não consideraram o estilo de vida dessas pessoas que também pode alterar o DNA.

O consumo anterior de outras drogas lícitas ou ilícitas, dieta, qualidade do sono, por exemplo, também são fatores fundamentais para o DNA do esperma.

Uso da maconha e tratamento para disfunção erétil — janeiro de 2017

Pode até parecer ironia, mas algumas pesquisas de 2017 sugerem que há ligação positiva entre a maconha medicinal e o tratamento para a impotência sexual.

Os pesquisadores fizeram uma revisão dos conhecimentos atuais disponíveis sobre canabinóides de diversos tipos com relação à modulação de vários aspectos da sexualidade em estudos pré-clínicos em humanos.

As conclusões desse estudo destacam o potencial terapêutico da Cannabis, sugerindo que é possível resolver disfunções sexuais ao introduzir o tetrahidrocanabinol (THC) ao sistema endocanabinóide (ECS) do corpo.

Inclusive, em alguns países, como alguns estados dos Estados Unidos, é possível encontrar médicos qualificados em Cannabis medicinal e criar um plano de tratamento para a impotência.

Fatores de estilo de vida e a disfunção sexual — abril de 2018

Uma pesquisa bibliográfica abrangente, com 10 bancos de dados eletrônicos e 89 estudos científicos, procurou relações entre o estilo de vida das pessoas e as disfunções sexuais.

Os pesquisadores buscaram relações entre 6 fatores de estilo de vida referentes à saúde e 3 disfunções sexuais comuns.

Os fatores de estilo de vida foram:

  • Tabagismo
  • Ingestão de álcool
  • Atividade física
  • Dieta
  • Cafeína
  • Maconha

As disfunções sexuais foam:

  • Disfunção erétil
  • Ejaculação precoce
  • Disfunção sexual feminina

Como resultado, o estudo concluiu que o risco de disfunção erétil aumenta com o aumento do consumo de cigarros e diminui com o aumento de atividades físicas.

Sobre a ingestão de álcool, concluiu que, quando moderada, existe um risco pequeno de disfunção erétil.

Em relação ao uso de maconha, a pesquisa não encontrou evidências científicas suficientes para tirar conclusões.

Uso de substância psicoativas e problemas de ereção — dezembro de 2016

Outro estudo, feito na Turquia, teve como objetivo determinar o efeito do uso de diversas substâncias psicoativas em relação à impotência sexual.

Para isso, os pesquisadores aplicaram o questionário internacional de Índice de Função Erétil (IIEF). Este questionário (você pode conferir aqui) engloba perguntas sobre problemas de ereção nas últimas quatro semanas dos indivíduos.

Para criar a distinção e fazer a análise, os usuários de substâncias (101, no total) foram comparados ao grupo de voluntários não usuários com idade semelhante (43 homens).

A conclusão da pesquisa não encontrou diferença nas funções sexuais de usuários de álcool e Cannabis em relação ao grupo de controle. No entanto, em relação aos usuários de opióides e ecstasy, os índices de disfunção sexual aumentaram.

A relação entre o uso de maconha antes do sexo e a função sexual em mulheres —janeiro e junho de 2017

Embora o texto seja sobre impotência sexual em homens, não tem como deixar as mulheres de fora desse assunto.

Para uma pesquisa da Universidade de St. Louis, no Missouri, pesquisadores entrevistaram 133 mulheres adultas durante os exames anuais de ginecologia.

Dessas 133 mulheres, 38 (ou seja, 29%) relataram que já usaram maconha pouco antes de fazer sexo. Desse grupo, 16% considerou que o uso prejudicou o sexo. Outros 16% não sentiram diferença ou não expressaram opinião.

No entanto, a maioria dessas mulheres (68%) relataram que o uso de maconha fez com que sentissem mais prazer.

Em seguida, a mesma equipe, agora em outra pesquisa, entrevistou um grupo maior de 289 mulheres adultas durante os exames de ginecologia.

É importante ressaltar que as participantes do estudo tinha características bastante semelhantes: dados demográficos similares e sem diferenças significativas na saúde em geral, na libido, na função sexual, no orgasmo ou satisfação sexual.

E, mesmo com a amostra maior, os resultados foram semelhantes aos do primeiro estudo: 65% das mulheres consideraram que o uso de maconha melhora o sexo. Apenas 23% disseram que não fazia diferença e 9% não expressaram opinião.

Mas, afinal, qual é o posicionamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos?

Em uma análise das pesquisas científicas, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) observou que o uso de maconha pode levar a um aumento do risco de derrame e doença cardíaca, já que faz o coração bater mais rápido.

Nessa perspectiva, o aumento do risco de derrame e de doença cardíaca são fatores que colocam um homem em risco de disfunção erétil.

É importante ressaltar que a maioria dos estudos científicos que relacionam maconha a derrames ou ataques cardíacos se baseiam em relatos de pessoas que fumaram.

Quer dizer, além do THC, as pessoas que fumam maconha também entram em contato com outras substâncias, como, por exemplo, as que estão presentes na fumaça do tabaco.

E são justamente essas substâncias que são prejudiciais aos pulmões e ao sistema cardiovascular como um todo.

No entanto, é difícil separar os efeitos da maconha para o sistema cardiovascular dos perigos que irritantes ou outros produtos químicos presentes na fumaça causam.

Ainda assim, na perspectiva do CDC, as pesquisas científicas que existem ainda não são sufientes. É necessário esclarecer muitas questões para compreender o real impacto do uso de maconha no sistema circulatório.

Conclusão

Deu para perceber que esse assunto ainda é bastante polêmico e controverso, não é mesmo?

No entanto, de forma geral, a maioria dos estudos recentes (de, no máximo, 3 anos atrás) sugerem que não existe relação entre a impotência sexual de homens e o uso de maconha.

Mas, como você já sabe, existem pesquisas científicas que vão na contramão desse posicionamento e outras que consideram apenas uma forma de consumo (no caso, fumar).

No entanto, a principal conclusão é de que ainda existe a necessidade de mais pesquisas científicas sobre o tema. E sobre a Cannabis em geral, não só sobre a possível relação com impotência sexual.

Nesse ponto, a legalização da Cannabis tem muito a beneficiar. Afinal de contas, a legalização tem impacto direto ao aumento de pesquisas científicas sobre o assunto e no nosso conhecimento sobre o uso recreativo e medicinal.

Enquanto isso, procure fontes confiáveis e artigos científicos com metodologias consistentes para embasar sua opinião e busque reduzir os danos durante o uso de Cannabis.

Inclusive, o principal cuidado deve ser evitar usar maconha junto com álcool ou tabaco, já que são substâncias que comprovadamente oferecem riscos para saúde sexual e para o coração.

Gostou do texto? Quer saber mais sobre a relação entre a impotência sexual e o uso da maconha? Ficou com alguma dúvida? Deixe seu comentário! Vamos adorar conversar com você 🙂

Fontes bibliográficas