Ah, o CBD! Uma sigla bem conhecida por aí e que até pouco tempo só era associada à Cannabis Sativa. Mas se engana quem pensa que quando o assunto é canabidiol nossa amada erva está sozinha nessa. A natureza é vasta e cheia de surpresas, e descobertas recentes reconheceram o composto em diversas outras plantas que também produzem canabidiol ou substâncias semelhantes. Neste artigo, faremos uma viagem botânica explorando essas alternativas verdes e dos canabinoides.

Entendendo o que caracteriza o canabidiol (CBD) e como ele atua em nosso corpo

Os canabinóides são compostos químicos encontrados tanto na natureza quanto no corpo humano. Em plantas, são chamados de fitocanabinoides e, quando encontrados naturalmente no corpo humano, são chamados de endocanabinoides. Ambos têm efeitos semelhantes no corpo, e a ingestão de fitocanabinoides de plantas pode ajudar a regular o sistema canabinóide do corpo. 

As pesquisas sobre canabinóides ainda são como um livro aberto com páginas quase em branco. Estamos constantemente descobrindo novas facetas desse composto, tanto as positivas quanto as negativas. Uma coisa é certa: a forma como cada pessoa reage a um canabinóide é tão única quanto uma impressão digital. Enquanto alguns encontram relaxamento, outros podem experimentar sentimentos de ansiedade.

A cannabis pode ser a estrela do show quando se trata de THC e CBD, mas ela não é a única no palco. Há um elenco de apoio de outras plantas que também contêm canabinóides e que estão prontas para brilhar.

Como o sistema endocanabinóide interage em nosso corpo?

O sistema endocanabinóide (ECS) é um sistema transmissor que regula e controla funções corporais críticas, incluindo memória, processos de aprendizagem, controle emocional, de temperatura, da dor, apetite, respostas inflamatórias e imunológicas. 

Ele é como um maestro silencioso que rege a harmonia do nosso corpo, e à medida que a ciência avança, estamos aprendendo mais sobre o papel vital que esse sistema e os canabinóides de diversas plantas desempenham na nossa saúde.

Os Irmãos Vegetais dos Endocanabinoides Humanos

Além dos endocanabinoides, que são produzidos naturalmente pelo nosso corpo, várias plantas também abrigam seus próprios canabinóides, conhecidos como fitocanabinoides. O mais interessante é que esses compostos vegetais têm uma química muito parecida com os canabinóides que já existem em nós. Eles podem tanto dialogar diretamente com nosso sistema endocanabinoide quanto influenciar indiretamente suas enzimas, gerando efeitos muito semelhantes aos endocanabinoides.

Para ilustrar, considere o kaempferol, um flavonoide que não só faz parte da composição da cannabis, mas também é encontrado em alimentos comuns como amoras e brócolis. Além de ser um antioxidante poderoso para as plantas, esse composto também atua como um freio nas enzimas do nosso sistema endocanabinoide.

kaempferol é um flavonol natural, um tipo de flavonóide. Estrutura química do kaempferol.
Fonte: Vetor Pro

O kaempferol atua sobre uma enzima específica do sistema endocanabinoide conhecida como FAAH (amida hidrolase de ácido graxo), impedindo-a de desmembrar compostos que se assemelham à anandamida.

 Para quem não está familiarizado, a anandamida é frequentemente chamada de “molécula da felicidade” e tem uma forte ligação com a regulação do humor, já que atua como um neurotransmissor no cérebro. Esses compostos conseguem se conectar com os receptores canabinóides em nosso cérebro, replicando assim os efeitos que os fitocanabinoides teriam. 

Isso sugere que o consumo de alimentos ricos em kaempferol poderia potencialmente influenciar o seu estado emocional, graças à sua interação com moléculas semelhantes à anandamida.

Pesquisas sobre os edocanabinoides

Conforme a pesquisa científica avança, estamos descobrindo mais sobre a relação simbiótica entre o corpo humano e o reino vegetal, especialmente no que diz respeito às propriedades medicinais de diversas plantas, conhecidas como canabimiméticos. O estudo desses compostos foca nos fitocanabinoides ou canabinóides vegetais que interagem com os receptores canabinóides em nosso corpo. 

Este é um campo que explora como essas substâncias naturais ou até mesmo produtos farmacêuticos podem ter aplicações terapêuticas, especialmente em relação às enzimas do sistema endocanabinoide.

Embora ainda haja muito a ser explorado, o que é crucial entender é que as enzimas que regulam o sistema endocanabinóide são fundamentais para manter todo o sistema em equilíbrio.

As plantas que imitam os efeitos da canabimiméticas, incluem:

  • Certas plantas com flores, como o rododendro
  • Algumas espécies de hepáticas, que são plantas pequenas semelhantes a musgos
  • Alguns tipos de fungos, que contêm fitocanabinoides informalmente conhecidos como “micocanabinoides”

É importante notar que muitas dessas fontes canabimiméticas têm um impacto menor nos receptores CB1, que são uma classe de receptores canabinóides no sistema nervoso central e desempenham um papel crucial na regulação do humor, dor e outros processos fisiológicos.

 Portanto, essas plantas não produzirão o efeito psicoativo associado à cannabis. Além disso, algumas podem conter moléculas tóxicas junto com fitocanabinoides, que servem para afastar predadores e podem ser prejudiciais se consumidas por humanos.

Feito essa viagem botânica, vamos à descoberta de quem mais embarca na família do canabidiol.

Os Primos Naturais do CBD — Pau Pólvora

Essa planta é uma verdadeira revolução verde e amarela no mundo dos canabinóides! Pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro fizeram uma descoberta que pode mudar o jogo no campo da medicina canabinoide no Brasil. Eles identificaram uma planta nativa chamada Trema Micrantha Blume, que produz canabidiol (CBD) mas, acredite se quiser, sem um pingo de tetrahidrocanabinol (THC).


A Trema micrantha blume, também conhecida como Pau pólvora, periquiteiro ou candiúva, produz apenas o CBD e pode ser encontrada por todo o país (Imagem: Alex Popovkin/CC-BY-2.0)

Isso é uma notícia e tanto, especialmente em um país onde o cultivo de cannabis enfrenta barreiras legais. Essa planta maravilhosamente brasileira poderia ser a chave para desbloquear o potencial terapêutico do CBD de uma forma que respeite as leis locais. Fique de olho, porque essa verdinha promete ser o próximo grande avanço na medicina baseada em plantas! E como diz o ditado, “quem tem Trema, tem medida”!.

Jambu e os canabinoides

Ainda falando sobre plantas famosas em nossa terra tropical, o Jambu é uma verdadeira experiência gastronômica e medicinal que só a América do Sul poderia oferecer! Também conhecido como Paracress, essa planta é um verdadeiro carnaval de sabores e sensações. 

Imagine um sabor que começa com um toque salgado e, num piscar de olhos, se transforma em algo picante e até ardente. Mas a verdadeira surpresa vem depois: um efeito de adormecimento na língua que fez dessa planta um remédio caseiro popular para dores de dente entre nossos ancestrais.

Mas o Jambú não é apenas um show de sabores e sensações. Ele também contém Spilanthol, um composto que age de forma semelhante aos canabinoides e que tem mostrado interagir com os receptores CB2 do nosso sistema endocanabinoide.

 Para quem não está familiarizado, os receptores CB2 são uma das duas principais classes de receptores canabinóides e estão principalmente associados ao sistema imunológico, desempenhando um papel na regulação da inflamação e da dor. Então, da próxima vez que você pensar em plantas canabimiméticas, não esqueça do Jambú. Ele não só agita as suas papilas gustativas como também pode ter um papel a desempenhar na medicina moderna.

Equinácea e os canabinoides

Essa é uma verdadeira estrela do mundo dos suplementos naturais! Muito conhecida como um reforço do sistema imunológico, graças ao seu alto teor de vitamina C, essa planta também é rica em N-alquilamidas (NAAs), compostos que, embora não sejam canabinóides, têm a habilidade de dialogar com os receptores CB2 do nosso sistema endocanabinoide. 

E adivinhe onde esses receptores estão frequentemente localizados? Isso mesmo, nas células do nosso sistema imunológico! Então, da próxima vez que você pensar em dar um up na sua saúde, considere a Equinácea como uma opção multifacetada que vai além da simples vitamina C. Ela pode ser uma aliada poderosa tanto para o seu sistema imunológico quanto para o seu bem-estar geral!

Lúpulo e os canabinoides

Já se pegou tomando uma cerveja e pensando, “Uau, isso tem um aroma que me lembra a maconha?” Não, você não está imaginando coisas! O lúpulo, esse ingrediente essencial na fabricação da cerveja, é parente próximo da cannabis, ambas pertencentes à família botânica Cannabaceae. Mas antes que você se empolgue, saiba que o lúpulo sozinho não vai te deixar “chapado” — é a fermentação que cria o álcool responsável por esse efeito.

O que torna o lúpulo e a cannabis tão aromaticamente similares são os terpenos que compartilham, como o mirceno, beta-pineno e alfa-humuleno. Embora ainda estejamos desvendando o papel exato desses terpenos no corpo humano, uma coisa é certa: a conexão olfativa entre lúpulo e cannabis é mais do que mera coincidência. Então, da próxima vez que você apreciar uma cerveja artesanal, lembre-se de que está degustando uma bebida que tem mais em comum com a cannabis do que você poderia imaginar!

Vimos neste artigo que não é apenas a Cannabis que guarda o segredo do canabidiol e outros canabinóides. À medida que as pesquisas avançam, outras plantas entram em cena como fontes alternativas e menos estigmatizadas dessas substâncias. Com a riqueza de biodiversidade que nosso planeta oferece, as possibilidades são tão vastas quanto um campo em floração.

Embora o potencial seja enorme, ainda há muito a ser explorado e confirmado por meio de estudos rigorosos. Mas uma coisa é certa: o futuro do canabidiol e dos canabinóides pode ser tão diverso quanto a flora global. 

Estamos apenas começando a entender o que a natureza tem a oferecer, e as alternativas à Cannabis são um novo território empolgante na fronteira da ciência e da saúde.

Fontes: