O cannabigerol (CBG) é um dos muitos canabinóides encontrados na planta de cannabis. Embora seja menos conhecido em comparação com o THC (tetra-hidrocanabinol) e o CBD (canabidiol), o CBG tem despertado grande interesse de pesquisadores devido às suas propriedades potenciais na medicina. 

Bora conhecer um pouco mais sobre esse canabinoide?

Cannabigerol (CBG), a “mãe dos canabinóides”

Há quem o considere a base de todos os canabinóides, isso porque é um precursor daqueles mais conhecidos, o que significa que as plantas de cannabis produzem CBG antes de convertê-lo em THC, CBD e outros compostos.

Quando sua forma ácida, o CBG-A, é submetida ao calor, passa por um processo  surpreendente de decomposição, resultando na formação de CBG, CBD, THC e CBC (canabicromeno), outro canabinoide intrigante que merece maiores estudos. 

É interessante notar que tanto o CBD quanto o CBG são canabinóides não-psicoativos, o que significa que eles não “podem te deixar chapado”.

Além disso, ambos interagem com os mesmos receptores no corpo e compartilham de propriedades anti-inflamatórias. No entanto, o CBG parece  desempenhar funções e fornecer benefícios à saúde diferentes dos do CBD.

Infelizmente, ainda a principal diferença entre o CBD e o CBG mora na quantidade de pesquisas disponíveis até o momento. Embora o Canabidiol seja amplamente estudado, o mesmo não pode ser dito sobre o Cannabigerol.

O que sabemos sobre ele, é que na maioria das cepas de cannabis, há uma concentração que não ultrapassa 1% e durante o crescimento da planta, o CBG-A, sua forma ácida, é prontamente convertido em THCA ou CBDA. Isso significa que quanto mais THC estiver presente, menos CBG e CBD haverá (e vice-versa), devido à forma como esses compostos são sintetizados.

Fonte: Cannalize

Segundo pesquisas divulgadas no Leafly, site especializado em cannabis medicinal, para alcançar concentrações mais altas de CBG, os jardineiros regularizados para plantação de cannabis estão explorando a manipulação genética e o cruzamento de variedades. Até agora, os cientistas observaram que o CBG é mais abundante em plantas em estágio de brotação. De acordo com os estudiosos da erva, o momento ideal para extrair o composto é de cerca de seis semanas em um ciclo de floração de oito semanas. Essas descobertas despertam nossa curiosidade sobre as complexidades da produção e da concentração de CBG nas diferentes etapas de crescimento das plantas de cannabis, mas ainda tem pouco tocado as pesquisas em âmbito científico. 

Por outro lado, o mercado de produtos derivados da maconha tem voltado sua atenção para esse componente.  Podemos observar sua presença em uma variedade de produtos, como óleos, tinturas e comestíveis.

Descoberta Científica do CBG: o que sabemos até o momento

O CBG foi descoberto pela primeira vez em 1964 por pesquisadores israelenses, Yehiel Gaoni e Raphael Mechoulam, o famoso pai da cannabis. Eles isolaram o composto e identificaram sua estrutura química. Desde então, os cientistas têm explorado os efeitos do CBG e seu potencial terapêutico. No entanto, devido às restrições legais e às dificuldades em obter financiamento para pesquisas com cannabis, o conhecimento sobre o CBG e outros canabinóides ainda está em desenvolvimento e majoritariamente estudado em animais.

Usos do CBG no Brasil

No Brasil, a legislação atual permite o uso de cannabis medicinal em determinadas circunstâncias. O CBG, embora menos conhecido do que o CBD, tem sido objeto de interesse em pesquisas no país. 

É o caso das análises conduzidas pelo Hospital Albert Einstein, que iniciou este ano estudos com Cannabigerol para enxaqueca crônica, em uma pesquisa intitulada de  CAMTREA. A instituição busca investigar os efeitos de um produto derivado da planta de Cannabis sativa contendo canabidiol (133mg), cannabigerol (66mg) e tetraidrocanabinol (THC) 4mg como tratamento adjuvante na condição.

O estudo, conduzido de forma randomizada e duplo-cega, tem como objetivo principal observar se há redução na frequência, intensidade e duração das dores de cabeça quando comparado ao grupo placebo. Além disso, serão analisados o uso de analgésicos durante o período do estudo e o impacto nas comorbidades comuns entre esses pacientes, como transtorno de ansiedade e distúrbios do sono. 

A pesquisa, que envolve 110 pacientes, está programada para avaliar os efeitos das substâncias ao longo de um período de 16 semanas. O recrutamento dos participantes e o processo de inclusão se estenderão por 18 meses, sendo os pacientes com enxaqueca crônica encaminhados por seus médicos. Após um período de avaliação de quatro semanas, os pacientes que atenderem aos critérios do estudo serão selecionados aleatoriamente e receberão uma formulação contendo CBD/CBG/THC ou um placebo. 

Serão realizadas reavaliações a cada quatro semanas para monitorar os efeitos ao longo do tempo. Esse delineamento de estudo meticuloso permitirá uma análise cuidadosa dos resultados e uma melhor compreensão do potencial terapêutico dessas substâncias no tratamento da enxaqueca crônica.

“A literatura médica mostra que o uso de derivados de Cannabis pode atuar na enxaqueca, com o potencial de reduzir as crises, melhorando a qualidade de vida. Em consultórios, especialistas já utilizam, canabinóides em portadores de migrânea, e costumam notar diminuição nas dores e ganho de funcionalidade no dia a dia”

informa Alexandre Kaup, neurologista do Einstein e médico responsável pelo desenvolvimento da pesquisa.

Essa lacuna de informações ressalta a necessidade de pesquisas adicionais e estudos de grande escala para obter uma compreensão mais completa e baseada em evidências sobre o potencial terapêutico dessa substância. Embora o estudo científico sobre os usos do CBG no Brasil ainda seja limitado, pesquisas internacionais sugerem vários benefícios potenciais. 

O CBG tem sido explorado, por exemplo, por sua capacidade de atuar como agente anti-inflamatório, neuroprotetor e potencialmente antitumoral. Além disso, algumas evidências indicam seu potencial para alívio do glaucoma e propriedades antidepressivas e ansiolíticas.

CBG: a arte da camuflagem molecular

A interação do CBG em nosso corpo envolve a comunicação com o sistema endocanabinóide. Esse sistema é composto por moléculas e receptores que desempenham um papel crucial em manter o equilíbrio do nosso organismo, independentemente das influências externas. Ao adentrar em nosso corpo, o CBG atua de forma semelhante aos endocanabinóides, que são compostos naturais produzidos pelo nosso próprio organismo.

Explorando a interação do CBG com os receptores Canabinóides dentro do nosso organismo, podemos encontrar dois tipos de receptores essenciais – CB1 e CB2. Enquanto os receptores CB1 estão concentrados no sistema nervoso e no cérebro, os receptores CB2 estão distribuídos pelo sistema imunológico e outras regiões do corpo.

O CBG, por sua vez, desempenha um papel fundamental ao se ligar a ambos os receptores, aprimorando a função da anandamida.

A anandamida, um dos muitos neurotransmissores presentes no cérebro, desempenha diversas funções, como promover o prazer e a motivação, regular o apetite e o sono, e aliviar a sensação de dor.

Potenciais terapêuticos do CBG

Sendo um grande aliado no auxílio de diversas questões do sistema fisiológico, algumas regiões de nosso corpo se beneficiam particularmente dos efeitos por meio de tratamentos com CBG:

  • Tratamento do glaucoma: Devido à presença de receptores endocanabinóides nas estruturas oculares, acredita-se que o CBG pode ser eficaz na redução da pressão intraocular associada ao glaucoma. No entanto, ainda são necessários estudos para confirmar sua eficácia nesse contexto.
  • Redução de inflamações intestinais: Experimentos realizados em camundongos demonstraram que o CBG teve o poder de diminuir inflamações no intestino, sugerindo um potencial uso terapêutico nessa área.
  • Proteção dos neurônios: Em um estudo conduzido em 2015 com camundongos portadores de doença de Huntington, caracterizada pela degeneração das células nervosas do cérebro, o CBG mostrou-se capaz de proteger os neurônios, o que pode ter implicações significativas no tratamento dessa condição.
  • Potencial no combate ao câncer: Estudos preliminares indicam que o CBG pode ser uma promessa no combate ao câncer, uma vez que é capaz de bloquear os receptores que estimulam o crescimento de células cancerígenas. No entanto, são necessárias mais pesquisas para confirmar sua eficácia e compreender melhor seu mecanismo de ação nesse contexto.
  • Prevenção de distúrbios da bexiga: Em uma pesquisa recente que analisou cinco canabinóides em relação às contrações da bexiga, o CBG se destacou como o mais eficiente na inibição de problemas musculares. Essa descoberta sugere que o CBG pode se tornar uma ferramenta importante no futuro para a prevenção de distúrbios da disfunção da bexiga.

Essas evidências preliminares apontam para o potencial terapêutico do CBG em várias condições de saúde. Porém, é importante reafirmar que mais estudos são necessários para aprofundar nosso entendimento sobre a eficácia e os mecanismos de ação do CBG em cada uma dessas áreas. À medida que a pesquisa continua avançando, podemos esperar obter mais informações sobre os benefícios do CBG e sua aplicação no campo da medicina canabinóide.

Fontes: