Os cigarros eletrônicos são uma forma de consumo de nicotina que está crescendo nos últimos anos. Muitos fumantes trocam o cigarro normal pelo cigarro eletrônico por conta do cheiro e sabor artificial, mas também por conta de uma maior aceitação social em relação ao cigarro convencional. 

Se há algumas décadas atrás fumar cigarro era um símbolo entre artistas e intelectuais e representado nos cinemas e revistas como símbolo de status e até mesmo sensualidade, atualmente todos os malefícios do cigarro são conhecidos e amplamente divulgados. A fama do “podrão” não é das melhores, entre as gerações mais novas, o cigarro está fora de moda.

Novas gerações e o uso dos cigarros eletrônicos

Para os mais jovens, o cigarro normal é considerado fétido e inadequado. As legislações acompanham o senso comum. Na maioria dos lugares do mundo é proibido fumar em lugares fechados e nenhum não-fumante suporta mais ficar em um local com fumaça de cigarro, que além de incômoda também podem trazer riscos à saúde dos fumantes passivos. Alguns países como a Nova Zelândia e Finlândia estão aprovando projetos de leis para banir a venda de cigarro a longo prazo.

Venda dos cigarros eletrônicos no Brasil

A venda dos dispositivos no Brasil está proibida desde 2009 por decisão da ANVISA e em 2019, o senador Randolfe Rodrigues apresentou um projeto de lei para que seja crime o fornecimento de cigarros eletrônicos para menores de 18 anos, porém a regularização dos cigarros eletrônicos está sendo discutida.

Apesar da venda de cigarros eletrônicos não ser regulamentada no Brasil, o número de usuários está crescendo no país. Segundo um levantamento da Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), divulgado pela Agência Brasil, o uso dos cigarros eletrônicos aumentou cerca de 600% no Brasil em seis anos e atualmente existem aproximadamente três milhões de usuários de cigarro eletrônico no país e 370 milhões no mundo. 

O que é o cigarro eletrônico?

O cigarro eletrônico surge como uma forma mais moderna e discreta de usar a nicotina. O sabor e o cheiro são agradáveis, a fumaça não é densa, o uso pode ser feito em qualquer lugar e os aparelhos normalmente não ocupam espaço. A primeira vista poderia ser uma forma de reduzir os danos no consumo de nicotina e deixar o uso mais prazeroso, sem ingerir tanta fumaça. 

Mas será que é isso mesmo? Neste texto vamos nos aprofundar nos usos do cigarro eletrônico para entender as diferenças entre o e-cigarette, o cigarro normal e o vaporizador de cannabis e também conhecer os riscos do uso nessa forma de consumo de nicotina. 

Os cigarros eletrônicos são uma forma de redução de danos?

Alguns países com políticas de Redução de Danos consolidadas como o Reino Unido, oferecem o cigarro eletrônico como alternativa do cigarro convencional em redes de serviços de apoio para cessação do tabagismo. A discussão também esteve presente no Parlamento Europeu, que determinou por sugerir aos países membros a possibilidade de oferecer programas de substituição do cigarro convencional por eletrônicos.

Por outro lado, pesquisadores e médicos advertem que o cigarro eletrônico pode causar até mais danos para o pulmão do que o cigarro convencional. A médica brasileira Kalina Marques, 29, que atua na Unidade de Medicina Intensiva e é pós-graduanda em Medicina Intensiva, além de estar cursando Acompanhamento Terapêutico com Cannabis Medicinal, nos conta que na prática observou danos pulmonares em pacientes que fazem uso do cigarro eletrônico.

Segundo a médica, “A carga tabágica do cigarro necessita anos de uso para trazer consequências para o pulmão e, ao cessar o uso, o pulmão pode voltar a ser saudável. Por outro lado, em menos de um ano de uso, alguns usuários de cigarros eletrônicos já apresentam consequências irreversíveis e ainda não sabemos qual é o fator determinante para isso”.

Médica explica sobre a Pneumonia Evali

Kalina Marques observou em alguns dos seus pacientes usuários de cigarros eletrônicos a “Pneumonia Evali” (sigla para o termo em inglês E-cigarette or Vaping product use-Associated Lung Injury, que em tradução livre significa “Problemas de Garganta Associados ao Uso de Cigarros Eletrônicos ou Vaporizadores”). 

Esse tipo de pneumonia é uma inflamação causada no pulmão pelo uso do cigarro eletrônico e pode ocorrer em um curto prazo de exposição, causando lesões pulmonares irreversíveis, independente da idade do paciente.

Por essa razão, é difícil determinar que o cigarro eletrônico possa ser de fato uma estratégia de Redução de Danos para cessar o tabagismo. Talvez, socialmente seja uma solução para fumar em lugares públicos ou fechados, porém pensando na saúde e danos pulmonares, é preciso entender o porquê alguns usuários de e-cigarette tão jovens estão desenvolvendo a “Pneumonia Evali” entre outros tipos de inflamações.

Quais são os riscos do uso do cigarro eletrônico? 

Uma hipótese seria que justamente pela maior aceitação, além do gosto e cheiro agradável, os usuários acabam fumando mais vezes ao dia e tragando uma maior quantidade de nicotina ao fumarem um cigarro eletrônico. Por outro lado, algumas substâncias nocivas já foram identificadas nos aparelhos de cigarros eletrônicos de algumas marcas, assim como em vaporizadores de cannabis. Essa substância é o diacetil, um aromatizante que está associado com a bronquiolite obliterante.

Por isso, segundo a médica, a melhor forma de reduzir os danos causados pela nicotina é diminuindo a frequência de uso. Já em relação à cannabis, Kalina explica que independente da substância de combustão (tabaco ou cannabis), a fumaça quente causa danos como tosse seca, pigarro, mudança na cor da boca e prejuízos para os dentes. 

Estratégias de Redução de Danos para os cigarros eletrônicos

Para esses malefícios, Kalina Marques cita algumas estratégias de Redução de Danos como: não misturar cannabis com tabaco, usar sedas sem aditivos, por exemplo sedas coloridas ou com sabores e se possível consumir maconha de cultivos caseiros.

Como a médica ressaltou, a fumaça quente traz prejuízos para a saúde independente do que está sendo fumado, e por isso muitos consideram o vaporizador uma estratégia de Redução de Danos, já que o usuário escolhe a temperatura da combustão. 

Por outro lado, assim como os cigarros eletrônicos, os vaporizadores podem conter substâncias nocivas nas suas composições, então qual a diferença entre uma forma de consumo e a outra e qual é a mais segura?

Qual a diferença entre fumar um cigarro, um e-cigarette ou um vaporizador?

As diferentes formas de consumo de nicotina e cannabis oferecem riscos diferentes para os usuários, por isso vamos entender as vantagens e desvantagens de cada uma para saber qual é a escolha mais segura.

A maior diferença observada por médicos e pesquisadores é em relação à velocidade de manifestação dos danos.

O usuário do cigarro convencional demora entre cinco e dez anos para ter manifestações crônicas no organismo, já os usuários de cigarros eletrônicos estão apresentando lesões que podem deixar sequelas irreversíveis em menos de um ano de uso.

O uso dos cigarros eletrônicos ainda é muito recente e ainda não existem estudos o suficiente para entender as consequências a longo prazo, mas tudo indica que os cigarros eletrônicos causem alterações pulmonares a nível celular, o que pode causar neoplasia, ou seja, câncer de pulmão.

Diferença entre o cigarro eletrônico e o cigarro branco

A maior diferença entre o cigarro eletrônico e o cigarro branco é que o e-cigarette tem uma fumaça tragável, com sabor e aroma agradáveis. Isso conduz o usuário a fumar mais vezes por dia. Outra diferença grande é em relação à concentração das substâncias. O cigarro eletrônico tem maiores quantidades de tabaco que o cigarro branco.

As vantagens do uso do cigarro eletrônico são principalmente em relação ao uso passivo. O uso do e-cigarette poupa as pessoas no entorno de inalar a fumaça do cigarro, mas a médica entrevistada, Kalina Marques adverte “Apesar da vaporização da nicotina produzir menos fumaça, as substâncias consumidas são exaladas formando uma fumaça mais densa, o que pode sim representar um uso passivo para pessoas  ao redor.”

De fato a temperatura do cigarro eletrônico também é menor, o que é uma forma de reduzir danos, porém como a carga tabágica é maior e é mais “agradável” de fumar por conta do cheiro e do gosto, os dois vícios acabam oferecendo os mesmos danos.

Vaporizadores de cannabis

Os vaporizadores de cannabis têm temperaturas menores, mas isso não é o suficiente para um consumo livre de riscos e prejuízos. Nem todas as marcas oferecem uma temperatura adequada. É necessário conhecer a marca e as substâncias que existem dentro do aparelho para saber se são substâncias nocivas que fazem tão mal quanto o e-cigarette ou se pode ser uma estratégia de redução de danos para o uso de cannabis.

Conclusão

O cigarro eletrônico está ganhando mais popularidade entre os usuários de nicotina, mas não tem uma legislação no Brasil, o que coloca a população, principalmente mais jovem, em risco. A proibição de venda para menores de idade e a regulamentação de venda ainda está sendo discutido, por isso é importante disseminar informação sobre os riscos do cigarro eletrônico e formas de reduzir danos do consumo de nicotina.

Existe um mito de que o e-cigarette causa menos danos que o cigarro normal, e de fato alguns países adotaram essa estratégia como pauta oficial nos programas de ajuda para usuários que querem parar de fumar, porém as substâncias que tem dentro do aparelho do cigarro eletrônico podem causar outros tipos de danos, portanto, conhecer a marca do aparelho é fundamental. Isso também vale para vaporizadores de cannabis.

O uso do cigarro eletrônico também está chamando a atenção de médicos pelos danos pulmonares a curto prazo, diversos pacientes foram identificados com inflamações no trato respirtatorio com menos de um ano de uso do e-cigarette.

O fator social do uso de cigarros eletrônicos entre jovens

Apesar de ser mais aceito socialmente por conta do cheiro, também é importante lembrar que o uso de cigarros eletrônicos causam os mesmos malefícios que o uso de outros tipos de tabaco durante a gravidez e podem causar dependência.

O fator social do uso de cigarros eletrônicos é muito importante, por isso é observado um uso maior, principalmente entre jovens. De fato é mais agradável para um não-fumante estar perto de um cigarro eletrônico do que de um cigarro convencional, mas o ideal é usar o e-cigarette em lugares abertos, pois a nicotina vaporizada também expõem as pessoas ao redor.

O uso de qualquer substância pode oferecer riscos, mas é necessário entendermos esses riscos para fazermos escolhas conscientes e mais seguras para nós mesmos. 

Espero que tenham entendido as diferenças entre o uso do cigarro branco e do cigarro eletrônico. E, me contem se vocês já sabiam dos riscos do e-cigarette ou também achavam que era uma forma segura de consumir nicotina?