É bem conhecido que a cannabis possui propriedades medicinais que podem ser eficazes no tratamento de diversas condições. No entanto, você já se perguntou como a maconha pode ser uma opção eficiente no tratamento da Síndrome de Tourette? Vamos explorar esse uso da cannabis neste artigo informativo!

Neste artigo, você vai descobrir os inúmeros pontos positivos do uso da maconha medicinal no tratamento da síndrome de Tourette e porque ela tem se mostrado uma boa alternativa para o tratamento dos seus sintomas. 

A maconha no tratamento da Síndrome de Tourette

É bem provável que você já tenha conhecido alguém com algum tipo de “tique nervoso”. Algum conhecido que ao longo da vida começou a piscar os olhos repetidamente, encolher os ombros ou deixar escapar palavras aleatórias. Esses sintomas são característicos de uma síndrome, conhecida como síndrome de Tourette.

A síndrome de Tourette é um distúrbio do sistema nervoso que afeta a vida de milhões de pessoas em todo o mundo, incluindo adultos e crianças. Os seus sintomas vão desde movimentos repetitivos incontroláveis até a emissão de sons indesejados.

Nos últimos anos, a busca por novos tratamentos que causem menos efeitos colaterais e melhorem a qualidade de vida dos pacientes vem se intensificando e nessa onda, surgem as pesquisas usando cannabis para tratar a síndrome de Tourette.

A maconha pode ser usada com fins medicinais para tratar inúmeras doenças e sintomas. De ansiedade à epilepsia, as propriedades terapêuticas da maconha são diversas. O tratamento com canabidiol para síndrome de Tourette é uma alternativa com menos efeitos colaterais e grande êxito em tratar os sintomas dessa enfermidade que influencia a vida de tantas pessoas.

A síndrome de Tourette, suas causas e sintomas

A síndrome de Tourette é um distúrbio neurológico caracterizado pela presença de múltiplos problemas motores e vocais, que também são chamados de “tiques”. É uma condição que ocorre frequentemente, estima-se que 1% da população mundial sofra com a doença.

O impacto de se conviver com os sintomas é grande, o preconceito por parte da sociedade e a falta de conhecimento sobre a doença também. Isso gera muitas dificuldades e interfere na qualidade de vida das pessoas que lidam com a síndrome.

As causas que fundamentam as manifestações clínicas da síndrome de Tourette ainda não são muito claras. Mas acredita-se, que a sua principal causa, seja uma falha dentro do sistema neurológico, especificamente no globo pálido, parte responsável pela nossa coordenação motora, como aponta o artigo “Síndrome de Tourette e terapia cognitivo-comportamental: um estudo de caso”. Essa falha, suprime impulsos que precedem os movimentos e desencadeiam os sintomas.

É um transtorno que pode ser hereditário, e que geralmente se manifesta durante a infância. São raros os casos de Tourette grave em adultos.Acredita-se que os homens sejam mais susceptíveis a desenvolver os sintomas da síndrome do que as mulheres, de acordo com o estudo Síndrome de Tourette – revisão bibliográfica e relato de casos, no artigo também se observam mais dados, onde “a ST acomete cerca de três a quatro vezes mais o sexo masculino do que o feminino. Quando são considerados tiques isoladamente, a frequência aproximada varia de 1% a 13% nos meninos e 1% a 11% nas meninas.”

É importante lembrar que o tratamento é essencial e ajuda na melhora da qualidade de vida, mas essa doença não tem cura.

Alguns sintomas da Síndrome de Tourette

Os sintomas variam muito de uma pessoa para a outra. Eles podem ser tiques motores ou sonoros;

  • Motores: Piscar de olhos, contrações da boca;
  • Sonoros: Aspirar com força, estalar a língua

E podem ser divididos em tiques mais simples ou mais complexos:

  • Simples: caretas, encolher ombros, produção de ruídos
  • Complexos: saltar, tocar outras pessoas, repetir palavras e dizer palavrões

Todos estes sintomas causam um certo desconforto e dificuldades para os portadores da síndrome.

No entanto, existem formas de tratamento que são eficientes e ajudam a amenizar os sintomas.

Formas de tratamento que atualmente são disponíveis

  • Psicoterapia; foco em modificação de comportamentos.
  • Medicamentos; antipsicóticos.
  • Terapia comportamental;
  • Exercícios de respiração;
  • Atividades de que reduzam o estresse;

Na lista acima, vemos alguns exemplos de tratamento, o uso de medicamentos é o mais utilizado apenas para casos graves, pois apesar de apresentarem melhora nos sintomas, causam diversos efeitos colaterais, tal como: sonolência, aumento de peso, raciocínio lento, depressão, dentre outros.

A eficácia da cannabis medicinal no tratamento da Síndrome de Tourette tem sido comprovada em diversos estudos científicos. Resultados indicam melhorias significativas nos tiques, ansiedade e irritabilidade dos pacientes. Alguns casos superaram os efeitos dos tratamentos convencionais, reduzindo ou eliminando completamente os efeitos colaterais.

Por que a maconha é utilizada no tratamento da síndrome de Tourette?

Bom, antes de iniciar, vamos entender quais os princípios ativos que nos interessam na maconha, e como eles atuam dentro do nosso organismo. Primeiro, vamos compreender melhor o que são os canabinóides, e o que é o sistema endocanabinóide, um dos sistemas neurológicos mais importantes presentes em nosso corpo.

Os componentes da maconha que são utilizados para fins terapêuticos são conhecidos como canabinóides. São mais de 70 canabinóides já identificados, todos eles atuando de maneira sinérgica para promover um diferente efeito medicinal da cannabis.

Os canabinóides têm sido explorados como forma de tratamento há muitos anos, e desde 1980 são feitos estudos relacionados à síndrome de Tourette. O Delta-9-tetrahydrocannabinol (THC) é o canabinóide mais conhecido, e já teve seus efeitos benéficos na redução dos sintomas de muitas doenças reconhecidas. E mais recentemente, o canabinóide CBD também teve seu efeito anticonvulsivante, anti-inflamatório e anti-emético comprovado.

Como os canabinóides atuam no nosso organismo?

Olha que interessante: – você sabia que o corpo-humano conta com um sistema receptor específico para as substâncias advindas da cannabis? Esse sistema é conhecido como sistema canabinóide. De acordo com pesquisadores, é o sistema fisiológico mais importante em termos de manutenção e estabelecimento da nossa saúde corporal.

Os receptores canabinóides estão presentes em todo o corpo. Até hoje foram identificados dois sistemas receptores principais, o CB1 presente principalmente no sistema nervoso e órgãos; e CB2, encontrado no sistema imunológico e em outras estruturas associadas. Acredita-se que ele é mais numeroso do que qualquer outro tipo de sistema receptor do nosso organismo e estejam relacionados com uma infinidade de processos.

Por que o nosso corpo tem um sistema receptor exclusivo para as substâncias presentes na maconha? A resposta é a seguinte: O nosso corpo produz naturalmente algumas substâncias conhecidas como “endocanabinóides”, com atividades similares às do canabinóides e que servem para estimular os receptores, causando a sensação de bem estar e promoção da saúde.

Assim, o uso medicinal da maconha, possibilita a ativação destes receptores. Refletindo em um sistema imunológico mais forte, com maior potencial de tratar os sintomas e até mesmo de curar certas doenças.

Além disso, o uso terapêutico também contribui para um aumento da produção endógena de canabinóides, o que potencializa os efeitos medicinais da maconha. Dessa maneira, podemos perceber que o uso da cannabis estimula um dos sistemas fisiológicos mais importantes do nosso organismo, e que geralmente, opera em baixa intensidade.  

A maconha como forma de tratamento

A cannabis tem se mostrado muito eficiente no tratamento dos sintomas causados pela síndrome de tourette. Em 1999 um estudo feito de maneira aleatória, comparou o uso da cannabis  com medicamento placebo e relatou que o uso de uma dose única de THC em 12 pacientes mostrou uma melhora dos tiques, ansiedade e irritabilidade dos pacientes.

Um resultado parecido foi encontrado em um estudo publicado em 2003, o estudo foi realizado durante seis semanas, com aplicação de THC em 24 pacientes, as dosagens foram de até 10 mg. Também foi observado uma melhora significativa dos tiques e problemas motores.

A pesquisadora Kirsten Müller-Vahl, da Faculdade de Medicina de Hannover, é uma das referências e pioneira na condução de estudos a respeito dos efeitos da cannabis no tratamento da síndrome de Tourette

Em Julho de 2015, aconteceu em Londres o Primeiro Congresso Mundial sobre síndrome de Tourette. A pesquisadora Alemã, apresentou resultados de um experimento que comparou o uso de maconha via fumo e do medicamento dronabinol, à base de THC e CBD para síndrome de Tourette.

Seus resultados mostraram que a maconha fumada tem um efeito mais rápido para o controle das crises, mas de curta duração. Enquanto que o medicamento tem um efeito mais demorado, mas com uma duração maior. Dessa forma, o médico deve orientar, mas cabe ao paciente decidir qual a melhor forma de uso.

No Brasil, já é possível que medicamentos aprovados em testes que contenham canabidiol e THC sejam importados para o tratamento da ST. O único inconveniente, são as altas taxas e custo de importação desses medicamentos à base de canabinoides. 

Outros meios de conseguir remédios à base de CBD no Brasil é através de um pedido especial para o SUS ou buscando as associações canábicas, que surgiram justamente para lutar pelo acesso universal da cannabis medicinal.

Um estudo de caso real comprovando o efeito benéfico da maconha para o tratamento da Síndrome de Tourette:

Esse é um relato sobre um jovem paciente alemão, que tinha 19 anos de idade na época do estudo, e que recebeu cannabis medicinal a uma dosagem 0,1 g – 0,6 g diariamente.

Ele nasceu prematuro com 36 semanas e precisou ficar em observação por 10 dias. Não tinha histórico familiar da doença. No entanto, quando completou 3 anos, os primeiros sintomas apareceram e começaram a se manifestar na forma de problemas na fala.

Desenvolvimento dos primeiros sintomas da Síndrome de Tourette

Na época, o paciente recebeu tratamento convencional com medicamentos, o que possibilitou certa melhora nos sintomas. Um certo tempo depois, começou a apresentar sintomas de gagueira, e já quando tinha 7 anos de idade, começou a apresentar tiques motores mais sérios.

A esse ponto, o paciente exibia um quadro mais severo de sintomas; piscar os olhos, balançar a cabeça, enrijecer a parte superior do corpo e chutes no ar, eram alguns deles. Ao longo de sua adolescência, foi submetido a uma série de tratamentos que iam desde uso de medicamentos até acompanhamento com psicólogo.

Surge um novo tratamento: a maconha medicinal

Sem demonstrar melhoras e apresentando efeitos colaterais graves por conta das medicações, na idade de 19 anos, o paciente optou por iniciar o tratamento com a maconha medicinal.

Na época, seu plano de saúde se recusou a cobrir os custos com o caro tratamento utilizando o medicamento nabiximol. Então, ele buscou uma forma mais barata de fazer o uso terapêutico da maconha.Baseado em uma permissão fornecida pelo governo da Alemanha, conseguiu iniciar o tratamento com 0,1 g de maconha medicinal, que posteriormente foi ajustado para 0,6 g, contendo 22% THC e 1% CBD uma vez por dia. A maconha era utilizada via vaporização.

Melhora na qualidade de vida

Depois de 8 meses, o paciente apresentou melhoras significativas nos sintomas. Ele já era capaz de conversar plenamente em qualquer tipo de situação, o que antes não era possível devido às crises de gagueira. As melhoras também foram visíveis para outros tiques, como por exemplo nos movimentos involuntários de balançar a cabeça e chutar o ar.

Estimou-se que a redução nos tiques foi de cerca de 70% e o paciente relatou um sentimento de paz e tranquilidade durante os dias. Nenhum outro tipo de efeito colateral foi relatado durante esse período. A melhora na qualidade de vida foi impressionante!!

É incrível como o uso terapêutico da maconha mudou a vida desse paciente, você não achou? Essa é apenas uma de muitas outras histórias que demonstram todos os benefícios da cannabis para o tratamento da síndrome de Tourette.

Vencendo Desafios: A Jornada de Tomás Levy, Campeão Brasileiro de Remo e Usuário de Cannabis Medicinal 

Tomás Levy é mais do que um campeão brasileiro de remo no single skiff; ele é um exemplo de resiliência e superação. Ao dar seu cartão de visitas, Tomás não apenas se apresenta, mas compartilha abertamente sua jornada com a Síndrome de Tourette, um distúrbio neuropsiquiátrico marcado por tiques múltiplos, motores ou vocais. A síndrome, por vezes, é mal compreendida por aqueles que encontram Tomás pela primeira vez. 

Com a coragem que caracteriza seus remos cortando as águas, ele explica: “Eu tenho Síndrome de Tourette, você sabe o que é? Por isso que eu tenho esses tiques nervosos, espero que você me entenda”. No entanto, ele não se limita a ser definido pela síndrome; ele a enfrenta de frente, não apenas como um remador excepcional, mas como um defensor do uso de cannabis medicinal para gerenciar os sintomas. 

Tomás, além de suas habilidades notáveis no remo, destaca como o THC e o CBD, componentes da cannabis, desempenham um papel vital em sua vida. “Eu tomo vários remédios, mas o THC e o CBD juntos funcionam como nenhum igual. Quem está do meu lado percebe nitidamente a diferença, principalmente dos tiques. Eu me sinto mais calmo”, compartilha Tomás. 

Ele descreve como, ao contrário de outros medicamentos, a cannabis não o transforma em um super-herói, mas sim o ajuda a encontrar um equilíbrio, a refletir melhor sobre as coisas e a manter um foco maior. Para Tomás, a cannabis medicinal é mais do que uma simples alternativa; é um elemento crucial para melhorar seu rendimento e qualidade de vida. Além de aliviar os sintomas associados à Tourette, a cannabis ajuda a atenuar a ansiedade que acompanha a síndrome.

Em entrevista a UOL, o atleta comenta mais que “melhora meu rendimento e minha qualidade de vida. Está tudo muito ligado, porque se eu estiver em uma fase ruim, o treino vai ser um cocô. A cannabis me ajuda muito e acho que é um passo super importante. Não é que tomo e viro um super-herói. Mas é, dos remédios, o que está me fazendo melhor”, destaca o remador. 

A história de Tomás Levy transcende o pódio de remo; é uma narrativa de resiliência, coragem e a busca por soluções inovadoras para desafios pessoais. Seu testemunho destaca a importância da cannabis medicinal não apenas como um recurso terapêutico, mas como um aliado valioso em sua jornada de superação.

Conclusão

Os sintomas da síndrome de Tourette afetam a qualidade de vida das pessoas, e controlá-los significa melhorar a qualidade de vida e os relacionamentos pessoais e profissionais.

Aqui nós falamos sobre o diagnóstico da síndrome, seus sintomas, abordamos formas de tratamento convencionais e os benefícios do uso de canabidiol para a síndrome de Tourette.  Existem inúmeros estudos científicos que mostram forte relação entre o uso da cannabis e a melhora nos sintomas da doença, como o estudo de caso que foi apresentado aqui.

Agora que você já conhece mais sobre o uso terapêutico da maconha, é possível considerar esta forma de tratamento alternativa, ou até mesmo recomendá-la para algum conhecido que esteja buscando algo parecido.

Hoje em dia, existe muita informação de qualidade a respeito do potencial medicinal da cannabis, inclusive, você pode encontrar mais informações sobre outras aplicações navegando pelo nosso blog.