A cannabis não é a única plantinha com efeitos psicoativos. Na verdade, existem várias plantas alucinógenas e a Sálvia Divinorum é mais uma delas. 

Nesse post vamos falar sobre uma poderosa planta psicoativa Salvia Divinorum e sempre ao falar desse assunto devemos ter a responsabilidade de avisar com clareza: Nós do mapa não incentivamos o uso ou a obtenção de qualquer substância cujos efeitos não sejam totalmente conhecidos pela ciência.

Esse post é de caráter informativo e tem como principal finalidade o compartilhamento de informações e o fomento à busca pelo conhecimento. Acreditamos que educar é a melhor forma de conscientização dos indivíduos, que com informação podem tomar as decisões mais seguras para si mesmos.

A história da Salvia Divinorum

A Salvia Divinorum é uma planta que sempre despertou a curiosidade do ser humano graças aos seus poderes únicos, bem diferente dos principais enteógenos conhecidos. Misteriosa e peculiar, essa erva perene (vegetais cujo ciclo de vida é longo) tem seu nome traduzido como “sálvia do divino”, referenciando suas incríveis capacidades psicodélicas.

A Salvia Divinorum é natural da serra mazateca de Oaxaca, no México, e a séculos é usada como remédio contra os males do outro plano e como catalisador de cerimônias espirituais. Por isso tem profundas raízes nas comunidades indígenas da região. Nomes comuns para a sálvia são “ska maria pastora”, “erva pastora” e “la maria”, refletindo a crença mazateca que essa planta seria a encarnação da Virgem Maria.

Originalmente, a Salvia Divinorum era mascada na forma de folhas frescas ou ingerida através de uma bebida feita com folhas maceradas em cerimônias conduzidas por xamãs. Hoje, seu consumo recreativo é feito principalmente pelo ato de fumar extratos concentrados em cachimbos ou bongs.

salvia divinorum
Foto: SelfHacked

A sua reprodução é complexa, normalmente cortando as folhas e enraizando, a planta raramente produz sementes viáveis. Isso provavelmente ocorre devido a inúmeros anos de seleção artificial feito pelo ser humano, como o que aconteceu com o limão taiti.

De aparência vistosa e com muitas folhas, a planta alcança facilmente 1 metro de altura. A Salvia Divinorum tem uma irmã muito famosa na culinária, a Salvia officinalis, usada como tempero, principalmente para aves. As semelhanças entre os dois tipos de sálvia se dão apenas por serem do mesmo gênero, a Sálvia usada como tempero não tem efeitos alucinógenos.

Outra diferença entre a sálvia para fumar e a sálvia usada como tempero é a questão legislativa. A Sálvia costumava ser vendida em tabacarias ou headshops, mas desde 2012, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proíbe o cultivo, consumo e a venda da espécie Salvia divinorum, que está classificada na lista E do órgão ou “Lista de plantas proscritas que podem originar substâncias entorpecentes e/ou psicotrópicas”.

Poucos países do mundo proíbem a substância, que apesar de causar efeitos muito intensos, não há registros de que seja tóxico para o corpo humano. Entre os países estão Austrália, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Itália, Lituânia, Coreia do Sul, Suécia e alguns estados dos EUA.

A proibição do consumo de uma planta e do uso de suas propriedades enteógenas traz a reflexão de quais seriam os motivos da proibição, já que faltam evidências sobre os malefícios do uso dos psicodélicos. Grandes pesquisadores como o professor Henrique Carneiro apontam o interesse da indústria farmacêutica em monopolizar as medicinas.

Princípios ativos e como a Sálvia age no seu corpo

O princípio ativo que torna essa planta tão mágica é a salvinorina A, um agonista opióide. Diferente dos outros compostos alucinógenos conhecidos, a salvinorina A não é alcalóide, ou seja, não possui nitrogênio. Essa característica faz com que ela seja o único agonista opioide ativo não nitrogenado de origem natural! Além desse composto, foram descobertos também a salvinorina B, sem efeitos psicoativos, e a divinorina C, que intensifica os efeitos da salvinorina A.

Essa substância é descrita como “alucinógeno por excelência” pois possui muita afinidade pelos receptores opióide kappa, e quase nenhuma afinidade por outros receptores. A “hipótese dopaminérgica” é usada para explicar o vício e dependência em substâncias: essa hipótese diz que quando alguma substância provoca um aumento da dopamina no seu corpo, você começa a criar um vício a aquele composto. A ativação dos receptores opióides kappa pela salvinorina A não aumenta a liberação de dopamina e por isso não causaria uma relação de dependência. A Salvia Divinorum e seus efeitos estão sendo inclusive estudados em pesquisas que combatem o vício em outras substâncias, e vem se mostrando promissoras.

Os estudos e pesquisas relacionadas aos efeitos negativos do uso recreativo e do abuso da Salvia Divinorum ainda estão engatinhando, por isso não se sabe ao certo todos os males que esta planta pode causar ao ser humano.

Os efeitos desse composto variam dependendo da sensibilidade individual de cada usuário e da quantidade consumida, e podem ser de moderados a intensos.

O uso da Salvia Divinorum modifica intensamente o estado de consciência e pode provocar sinestesia, quando sentimos o cheiro de cores, ou enxergamos os sons, por exemplo. Diferente dos alucinógenos serotoninérgicos, a salvinorina A induz uma onda muito introspectiva, que se favorece do silêncio e da escuridão, lembrando muito a sensação de um sonho.

Sobre os vídeos de pessoas consumindo Sálvia, é tudo real?

É fato que a popularidade da Salvia Divinorum no Brasil explodiu na mesma proporção em que apareciam novos vídeos de pessoas experimentando e fumando extrato de sálvia. Você provavelmente já viu pelo menos um,  eles seguem praticamente o mesmo roteiro – o sujeito com um bong ou cachimbo puxa uma quantidade enorme de fumaça para dentro dos pulmões, ele solta a fumaça, vem uma crise de tosse, e naquele momento já fica nítido que a pessoa está extremamente alterada.

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Foto: Diversified Risk Management

As imagens podem causar espanto, algumas pessoas se debatem, outros não falam nada com nada, agindo como se estivessem terrivelmente alcoolizados. Após alguns segundos ou poucos minutos a pessoa vai retomando a consciência até voltar totalmente ao normal.

O que nós do Mapa Canabico queremos falar sobre isso é baseado em experiências próprias e reais da nossa equipe. Embora os vídeos estejam retirados de contexto, as imagens geralmente mostram a visão de quem está assistindo. Se você fumar um extrato mais potente que 10x, você vai, como se diz, soltar as rédeas do seu cérebro.

Gostamos de comparar a viagem da Salvia Divinorum com um sonho, no momento em que está acontecendo você não tem consciência de que está ali, você só começa a perceber a onda quando ela já está passando. Depois disso você começa a se lembrar com detalhes de tudo que se passou na sua mente durante aqueles poucos minutos, e uma coisa é certa, não se parecem poucos minutos, as vezes parece que você voltou com memórias de uma vida inteira.

Salvia Divinorum e Cannabis

Algumas pessoas acreditam que a Sálvia não seja uma substância para uso recreativo como a maconha, mas sim uma poderosa erva que auxilia na compreensão do subconsciente e na trajetória do autoconhecimento.Outros acreditam que a Sálvia seja justamente uma nova maconha, porém há muitas diferenças na brisa de cada uma.

A primeira questão é em relação ao tempo de cada substância. A sálvia bate muito rápido e os efeitos duram alguns minutos muito intensos, já a cannabis fumada também bate rápido, mas seus efeitos são mais duradouros e sutis. O indivíduo não embarca numa viagem tão forte para dentro, a brisa da maconha é corporal e mental, mas sem que a pessoa perca a noção do que é real. 

Apesar das diferenças ambas podem ser usadas de formas ritualísticas, mas nunca devem ser usadas juntas, pois a viagem pode ser muito forte ou mesmo desafiadora. 

Resumindo…

Se você tem interesse em experimentar qualquer enteógeno, pesquise e estude o máximo que puder sobre o assunto. Se possível, procure um especialista na área da saúde que tenha experiência com plantas psicodélicas. Conhecimento nunca é demais.

Não custa lembrar: Dicas básicas para uma boa experiência psicodélica:

  • Se mantenha hidratado, um corpo hidratado é um corpo feliz e preparado para novas experiências!
  • Esteja rodeado de pessoas que você ama, você não vai querer um mala do seu lado em nenhuma experiência psicodélica, principalmente com Salvia Divinorum!
  • Se certifique de estar em um local seguro e confortável, é extremamente importante cuidar bem de quem acabou de fumar Sálvia.
  • Sempre fume apenas 1 pessoa de cada vez, a onda é curta, dura de 2-5 minutos, não custa nada esperar a onda do seu amigo passar com segurança para começar a sua!
  • Fume sempre sentado! A onda da Salvia Divinorum é extremamente potente e você irá perder o controle do seu corpo segundos depois de fumá-la. Se você estiver em pé quando fumar, você irá cair no chão e pode se machucar feio!

Não se esqueça que enteógenos são substâncias recreativas extremamente complexas, com diversas nuances de pessoa para pessoa, então use sua consciência para saber se você realmente quer ter essa experiência e tire o máximo proveito dela. Sempre respeite os enteógenos pelo seu poder e pela sua história.

Embora ainda seja um tabu na nossa sociedade, o uso de substâncias alucinógenas seguiu e também guiou a jornada do ser humano na terra. Essa planta mágica e enigmática ainda reserva muitos segredos não revelados e talvez ainda possa nos mostrar uma janela escondida para nosso passado e nosso futuro.

Se quiser saber um pouco mais sobre o tema, tem um documentário muito interessante que fala sobre drogas e um dos episódios fala sobre a Salvia. Acesse aqui!

Gostou do post? Sobrou alguma dúvida acerca da Salvia Divinorum? Deixe seu comentário abaixo que tentaremos te responder da melhor maneira possível!