Quase na mesma velocidade que uma planta de Cannabis medicinal cresce, e em apenas poucos meses, atinge sua vida adulta e floresce, o mercado da maconha no Brasil dobrou sua meta. Isso mesmo, em apenas um ano todo mercado da erva duplicou de tamanho em nosso país.

A planta, há muito tempo vista pelas lentes do preconceito e controvérsia, hoje atua como um meio de alívio e tratamento para inúmeras condições de saúde, mas também como um promissor mercado a todo vapor. Em alguns casos, em plena fumaça. 

O Brasil, um país com uma rica biodiversidade e potencial agrícola, está testemunhando uma verdadeira revolução no uso medicinal da cannabis, refletida em números que impressionam e prometem um crescimento ainda maior. Por aqui, o mercado verde caminha para superar 1 bilhão de reais em receitas neste ano. 

Recentemente, um relatório da Kaya Mind, empresa especializada no mercado de cannabis, divulgou dados surpreendentes sobre o crescimento deste setor em nossas terras tropicais. Em apenas um ano, o mercado de cannabis medicinal alcançou a marca de quase 700 milhões de reais. Este salto financeiro é acompanhado por um aumento significativo no número de pacientes que se beneficiam dos derivados da planta, chegando a aproximadamente 420 mil pessoas.

Infográfico produzido pela equipe do Poder 360 

Esses números não apenas ilustram um crescimento de 130% no número de pacientes, mas também um aumento de 92% na movimentação financeira, comparado ao ano anterior.

A variedade de produtos que contem a planta como seu componente também deu um salto, e atualmente o país conta com uma oferta diversificada de mais de 1.700 produtos de cannabis, disponíveis em 18 formas farmacêuticas diferentes. 

Tudo isso fornecido por 897 empresas e 137 associações de pacientes regulamentadas, evidenciando os potenciais crescimentos em todas as áreas relacionadas a planta. 
Interessante notar que, apesar da falta de dados exatos sobre o número total de médicos prescrevendo cannabis no Brasil, a Kaya Mind identificou, através de um banco de dados com mais de 1.500 profissionais de saúde, um preço médio de R$ 529,54 para consultas relacionadas à cannabis.

As especialidades e condições de saúde mais comuns para as quais os produtos de cannabis são indicados incluem:

  • Clínica médica e saúde em geral;
  • Condições neurológicas;
  • Psiquiátricas;
  • Dores diversas.

Como está o mercado canábico brasileiro?

Para alcançar esses pacientes, startups inovadoras como a Cannect estão canalizando sua energia criativa para se tornarem facilitadoras essenciais na interação entre a comunidade e médicos especializados. 

Nathan Cândido em sua participação com palestrante da Expo Cannabis 2023 l Acervo pessoal 

A ideia inicial de Nathan Cândido, Founder da Cannalize, começou na busca por tendências, e no desejo de criar uma biblioteca da cannabis no Brasil, algo que ainda pouco existia no país. O projeto trilhou diversos caminhos até se estruturar em um público que não necessariamente é “maconheiro”, diz o empreendedor.  

“Meu público ideal são pessoas iguais a minha mãe ou a minha madrinha, pessoas que estão procurando outras alternativas para tratar doenças e condições que não estão surgindo efeitos com os medicamentos atuais. É aí que plantamos nossa sementinha da cannabis medicinal.” 

Nathan, que esta no mercado há 4 anos, destaca que um dos principais aprendizados de atuar no setor é a real colaboração com outras frentes, como a ANVISA, por exemplo. “O mercado da cannabis mudou muito em pouco tempo”, diz ele, há alguns anos, um paciente demorava em média até 60 dias para receber seu medicamento. Atualmente, após a consulta, com uma média de 9 a 12 dias, ele já pode começar seu tratamento.

Dinheiro e empregos verdes

Além do benefício aos pacientes, há uma projeção de criação de até 328 mil empregos no mercado canábico, com uma geração de aproximadamente R$ 26 bilhões em quatro anos, caso haja uma regulamentação abrangente que inclua usos medicinal, industrial e recreativo. O famoso green and gold, né?

A indústria global da cannabis, segundo a Fortune Business Insights, está projetada para movimentar US$ 197 bilhões até 2028, considerando todos os aspectos legais da maconha.

Este panorama reflete uma mudança significativa na percepção e na aceitação da erva. O que antes era um tema envolto em preconceitos e desinformação, hoje se apresenta como uma área de grande potencial terapêutico e econômico. 

A regulamentação do mercado da cannabis no Brasil é vista como um passo fundamental para a segurança jurídica da indústria e para atrair investimentos maiores. Especialistas acreditam que a regulamentação é inevitável para o país desempenhar seu pleno potencial de arrecadação. 

Empregos Canábicos e Danilo Lang

Danilo Lang, fundador do primeiro site de Empregos Canábicos do Brasil, possui uma visão otimista e estratégica sobre o futuro do mercado verde. 

Segundo Lang, o setor está em uma trajetória ascendente: “O mercado está crescendo no Brasil, a cada semana vemos novas empresas e soluções atuando”. Ele prevê que, nos próximos anos, o setor não apenas aumentará em tamanho, mas também será enriquecido por negócios que suportem esse crescimento.

O empreendedor enfatiza a importância de uma legislação robusta que ofereça segurança para os empreendedores, um fator crucial para o desenvolvimento de negócios auxiliares e a atração de mais profissionais para o setor. “Precisamos de uma legislação forte e que dê segurança para quem empreende”, afirma ele, destacando que o fortalecimento do ecossistema canábico depende da criação de um ambiente regulatório confiável.

Além disso, Lang aconselha aqueles que desejam ingressar no mercado canábico a adaptarem suas ideias à legislação atual e a se especializarem em suas áreas de atuação. 

Foto Reprodução: Danilo Lang

“Para quem quer atuar neste mercado, a hora é agora”, aconselha ele, ressaltando a necessidade de equilíbrio entre o conhecimento específico sobre cannabis e a competência técnica na área de atuação: “Não adianta uma pessoa programadora de sites, por exemplo, entender muito sobre cannabis e não saber criar um site”.

O propósito da criação da plataforma é contribuir com a carreira de outros profissionais nesse novo mercado, missão refletida na eficiência do site, onde profissionais podem se candidatar a vagas em apenas três minutos.

A perspectiva de Lang ressalta a importância da regulamentação do mercado de cannabis no Brasil, não apenas como um passo fundamental para a segurança jurídica da indústria, mas também como um catalisador para o crescimento e a inovação. 

Outras startups ganham espaço no mercado brasileiro canábico

Outras startups também tem ganhado notoriedade no mercado brasileiro, como o caso da Endogen.  Com a recente aprovação da Anvisa, a empresa possui um portfólio de cerca de 50 produtos, incluindo suplementos e fármacos à base de cannabis — sim, estamos falando de # wheygreen — e realiza o comércio através de seu próprio marketplace, além de iniciar uma parceria com o site  “Cannabis e Saúde”. 

Refletindo sobre as perspectivas e insights compartilhados por empreendedores do setor ao longo deste texto, fica evidente que 2023 foi um ano de contrastes para o mercado de cannabis no Brasil. Com avanços significativos, como a aprovação da lei para a distribuição gratuita de medicamentos à base de cannabis pelo SUS paulista e o crescimento expressivo do mercado, o setor demonstrou um potencial de expansão e inovação notáveis. O aumento no número de pacientes também reflete a crescente demanda e aceitação dos produtos de cannabis no país.

Contudo, o ano também foi marcado por desafios, incluindo atrasos na implementação de políticas importantes e a controversa proibição da importação de cannabis in natura para uso terapêutico inalado. Esses obstáculos sublinham a necessidade urgente de uma regulamentação mais eficiente e alinhada com as tendências globais e as demandas locais.

Olhando para o futuro, áreas como o mercado pet de cannabis, que já fatura R$ 40 bilhões ao ano, e as expectativas em torno da atualização da RDC 327, indicam novas oportunidades de crescimento e investimento.

Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) 327

Estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2019, é um marco regulatório fundamental no Brasil para o uso medicinal da cannabis. Essa resolução delineia critérios e procedimentos rigorosos para a importação, fabricação, comercialização e monitoramento de produtos à base de cannabis destinados a fins medicinais. A RDC 327 não apenas formaliza o uso desses produtos no país, mas também assegura a qualidade, segurança e eficácia dos mesmos.

Sob esta resolução, são estabelecidas diretrizes claras para o registro, fabricação e venda de produtos derivados da cannabis, garantindo que atendam aos padrões estabelecidos pela Anvisa. Além disso, a RDC 327 especifica os requisitos para a prescrição médica desses produtos, incluindo a necessidade de autorização especial, o que é crucial para garantir o uso adequado e seguro desses tratamentos. 

Portanto, a RDC 327 representa um passo significativo na regulamentação do uso medicinal da cannabis no Brasil, facilitando o acesso a tratamentos alternativos para pacientes que necessitam de terapias específicas.

Assim, apesar dos desafios enfrentados em 2023, o mercado de cannabis no Brasil caminha para 2024 com otimismo, antecipando avanços e uma maior maturidade do setor.