A menopausa, uma fase natural da vida de toda mulher, é marcada pelo fim dos ciclos menstruais e da fertilidade e vem frequentemente acompanhada por uma série de sintomas que vão desde ondas de calor até alterações de humor. Mas e se houvesse uma solução natural que pudesse aliviar essas moléstias? A resposta pode estar na cannabis.

O que a ciência diz sobre a cannabis e a menopausa?

Muitas mulheres estão se voltando para a cannabis como uma alternativa para aliviar os sintomas da menopausa. E não é apenas uma tendência passageira. 

Estudos têm mostrado que a cannabis pode ajudar a reduzir a frequência e a intensidade das ondas de calor, melhorar o sono e até mesmo ajudar no equilíbrio do humor. Mas isso não surpreende muito aqueles que conhecem as propriedades medicinais da erva.

A planta possui compostos chamados canabinoides, os quais interagem com o sistema endocanabinoide do corpo. Esse sistema regula várias funções, incluindo humor, sono e dor.

A transição para a menopausa é uma realidade para todas as mulheres que possuem ovários. No entanto, surpreendentemente, o diálogo aberto sobre esse período ainda é escasso. O climatério, como é conhecido o período de transição dessa fase, traz consigo uma variedade de sintomas que podem afetar significativamente a qualidade de vida da mulher.

Na menopausa, a cannabis pode ser uma ferramenta poderosa para ajudar as mulheres a se reconectar com seus corpos e encontrar alívio de uma maneira natural e sem grandes efeitos colaterais.

Entendendo a transição reprodutiva feminina

A menopausa é definida como a cessação permanente da menstruação e tem seu início confirmado após 12 meses consecutivos sem períodos menstruais. Ela sinaliza o fim da fase reprodutiva da mulher, geralmente ocorrendo entre os 45 e 55 anos.

Perimenopausa

Antes de entrar na fase da menopausa, muitas mulheres passam pela perimenopausa. Durante esse período, que pode durar de 4 a 8 anos, o corpo começa a produzir menos estrogênio. Os sintomas, que variam em intensidade, incluem:

  • Ondas de calor e suores noturnos;
  • Secura vaginal, que pode causar desconforto durante o sexo;
  • Distúrbios do sono;
  • Mudanças de humor e irritabilidade;
  • Ganho de peso e metabolismo mais lento;
  • Implicações de Saúde a longo prazo.

A menopausa não é apenas uma fase de transição; ela tem implicações de saúde duradouras. A diminuição do estrogênio aumenta o risco de certas condições médicas, como:

  • Osteoporose: diminuição da densidade óssea, tornando os ossos mais frágeis;
  • Doenças cardíacas: o risco aumenta devido a mudanças nos níveis de lipídios no sangue;
  • Incontinência urinária e enfraquecimento dos músculos pélvicos.

O manejo dos sintomas da menopausa varia de mulher para mulher. Algumas podem precisar de terapia de reposição hormonal (TRH); no entanto, outras podem se beneficiar de terapias não hormonais e mudanças no estilo de vida. E é aí que a Cannabis entra!

(Foto: Ilustração por Chelsea Conrad/The Washington Post/iStock)

Green for her, please? Cannabis e a menopausa

Um estudo recente da Universidade de Alberta, no Canadá, revelou que cerca de 34% das 1.485 mulheres entrevistadas recorrem à cannabis para gerenciar os sintomas da menopausa. Esse número sugere uma tendência crescente na busca por alternativas naturais ao tratamento convencional associado à reposição hormonal. 

A pesquisa exploratória foi concebida para agregar a futuros estudos sobre por que e como as mulheres usam cannabis, e para criar ferramentas clínicas para prestadores de atendimento à saúde. Além de material educativo para o cuidado ginecológico. 

Universidade de Harvard e a pesquisa sobre menopausa e a cannabis

Um estudo recente conduzido pela Universidade de Harvard, divulgado na revista Menopause, buscou entender os padrões de consumo de cannabis entre mulheres em diferentes estágios da menopausa. A pesquisa focou em 131 mulheres na fase de perimenopausa e 127 que já haviam concluído essa etapa.

As participantes foram selecionadas por meio de anúncios em plataformas digitais e redes sociais. A maioria das entrevistadas era branca e pertencia à classe média, conforme indicado por informações sobre renda.

Principais descobertas de Harvard sobre a menopausa

  • A pesquisa revelou que 86% das mulheres eram usuárias atuais de cannabis, com uma variedade delas usando a planta tanto para fins medicinais quanto recreativos.
  • Cerca de 79% afirmaram usar cannabis para aliviar sintomas associados à menopausa. Deste grupo, 67% indicaram que a cannabis auxilia em problemas de sono, e 46% acreditam que ajuda a regular o humor e a reduzir a ansiedade.
  • As mulheres na fase de perimenopausa relataram sintomas mais intensos em comparação com aquelas na pós-menopausa e também indicaram um uso mais frequente de cannabis como tratamento.
  • Em relação à forma de consumo, 84% das entrevistadas preferem fumar à planta, 78% optam por produtos comestíveis à base de cannabis e aproximadamente 53% utilizam óleos vaporizáveis.

Um ponto de atenção no estudo é a natureza autosselecionada das participantes, que apresentava uma falta de diversidade, podendo influenciar nos resultados. 

No entanto, a Dra. Hirsch, uma das envolvidas na pesquisa, observou que a alta prevalência de uso regular de cannabis entre os participantes pode ser representativa da população em geral, afirmando: “Não me surpreenderia se esses números fossem consistentes com a realidade da maioria das mulheres.”

O estudo de Harvard e Alberta lançam luz sobre a crescente aceitação e uso da cannabis como uma alternativa potencial para aliviar os sintomas da menopausa. À medida que a pesquisa avança, é essencial que as mulheres estejam informadas e consultem profissionais de saúde antes de considerar qualquer tratamento.

Os principais benefícios observados em estudos incluem:

  • Redução das ondas de calor: A cannabis pode ajudar a regular a temperatura corporal, proporcionando alívio das oscilações de hipertermia;
  • Melhoria do sono: Muitas mulheres na menopausa relatam insônia ou sono interrompido. A cannabis tem propriedades sedativas que podem ajudar a melhorar a qualidade na hora de dormir;
  • Equilíbrio do humor: Os canabinoides podem interagir com os neurotransmissores cerebrais, ajudando a equilibrar o humor e reduzir episódios de ansiedade ou depressão.

A pesquisa sobre os benefícios terapêuticos da cannabis ainda está em desenvolvimento, especialmente no campo da ginecologia. Existem relatos promissores sobre o uso da planta para tratar condições como adenomiose e endometriose, graças às suas propriedades anti-inflamatórias. 

Uma razão pela qual a cannabis pode funcionar para essa condição que acomete as mulheres é que as substâncias contidas na erva podem imitar um composto químico, a anandamida, produzido pelos ovários, cuja produção cai durante a menopausa. 

A conexão entre endocanabinóides e a saúde feminina

A anandamida pertence aos endocanabinóides, moléculas geradas pelo organismo que têm uma estrutura parecida com os canabinóides encontrados na cannabis. 

Esses endocanabinóides integram o sistema endocanabinóide do corpo, responsável por regular aspectos como emoções, sono e sensação térmica

Este sistema também tem impacto no sistema reprodutivo feminino. Por exemplo, estudos indicam uma relação entre os níveis de anandamida e os de estrogênio. Assim, à medida que esses níveis decrescem na perimenopausa, isso pode levar ao surgimento de sintomas.

A diminuição do hormônio estrogênio com o tratamento também pode ser um grande indicador do alívio dos sintomas indesejados durante esse período de transição hormonal. 

Tratamento para o alivio dos sintomas na menopausa

O tratamento mais eficaz para reduzir ou eliminar os sintomas da menopausa é a terapia hormonal. Mas o procedimento, que pode incluir estrogênio sozinho ou estrogênio combinado com progesterona, apresenta um risco aumentado de coágulos sanguíneos, acidente vascular cerebral e câncer de mama.

Um antidepressivo, a paroxetina, também foi aprovado pela Food and Drug Administration para tratar ondas de calor. No entanto, muitas mulheres não querem usar hormônios ou tomar antidepressivos.

Por aqui no Brasil, estudos clínicos ainda estão em fases iniciais, com as discussões ganhando terreno. 

Personalidades, como a apresentadora Maria Cândida, têm compartilhado suas experiências com a erva para aliviar os sintomas do climatério. Apesar disso, é importante ressaltar que ela ainda está no início de seu tratamento.

Confira a entrevista de Maria Cândido sobre o uso da cannabis durante a menopausa

Em entrevista à revista Veja, a apresentadora compartilhou sua experiência pessoal com a planta: “A cannabis foi uma grata surpresa. Me sinto mais revigorada, mais forte. A gente devia falar mais sobre isso, abrir a mente das mulheres que estão passando por isso.”

Cândido contou que optou por tratar os sintomas da menopausa de maneira natural e encontrou na cannabis uma aliada. “A planta não é milagrosa, mas é uma soma de coisas. Tenho um médico que me acompanha mensalmente, um enfermeiro que me chama a cada 15 dias. Sou super amparada, coisa que não acontece na medicina tradicional”, afirmou no bate-papo. 

No Brasil, o acesso ao tratamento com cannabis exige a orientação de um ginecologista familiarizado com a substância. Em contraste, em outras nações, as mulheres têm mais liberdade para incorporar produtos à base de cannabis em suas rotinas de autocuidado.

Embora a cannabis apresente potencial terapêutico, é essencial abordar seu uso com cautela. No entanto, cada corpo é único, e o que funciona para uma pode não ser adequado para outro. Além disso, a dosagem e a forma de consumo (seja por óleos, vaporização ou outras formas) são cruciais para garantir a eficácia e segurança do tratamento.

Fontes: