Nem tudo nessa vida são flores, mesmo em um universo em que elas são mais que disputadas e queridas. Sim, estamos falando sobre cannabis! Neste artigo vamos falar sobre os potenciais efeitos colaterais da cannabis. Na natureza, podemos encontrar cura e veneno, e sua finalidade ou dose pode frequentemente definir o uso de determinado composto. Ao refletirmos sobre plantas e vegetais, comumente as associamos a benefícios e bem-estar, dada a sua reputação de serem alimentos saudáveis e frequentemente ligados a tratamentos naturais.

Mas, como em muitas coisas na vida, é preciso um equilíbrio. Em uma conversa com o site Terra, Paulo Edson Reis Jacob Neto, líder do Sindicato dos Terapeutas do Estado do Rio de Janeiro (Sinter-RJ) e especialista em terapias naturais, nos lembrou que “todas as plantas possuem seu grau de toxicidade. O que determina se é benéfico ou prejudicial é a quantidade consumida”. Uma reflexão interessante, não acha?

Individualidade e Saúde

De fato, a riqueza de vitaminas, minerais e outros nutrientes em certos vegetais e ervas exige um consumo consciente para garantir que não se tornem prejudiciais à saúde. Jacob Neto enfatiza que a tolerância varia de indivíduo para indivíduo, levando em conta fatores como idade, peso e gênero.

Cuidados com a Alface?

Nada, por mais inofensivo que pareça, deve ser consumido sem critério. Até mesmo a alface, frequentemente incluída em dietas, possui seus limites. Embora seja reconhecida por suas propriedades calmantes, seu alto teor de manganês pode interferir no funcionamento da tireoide quando consumida em excesso.

Entendendo os Limites

Portanto, é essencial compreender que não se refere apenas ao que é letal, mas também ao que pode ser prejudicial à saúde quando não consumido de forma adequada. No final das contas, o importante é entender que tudo tem seu limite e que a informação é nossa maior aliada. 

Como tudo tem dois lados, o uso tanto recreativo, quanto medicinal da maconha, a depender de seu consumo e quantidade, pode resultar ao usuário alguns efeitos colaterais indesejados. Embora a incidência e gravidade da maioria dos casos seja pequena e leve, há casos e casos e como já citamos, conhecimento e saber nunca é demais e nos livra de bad trips horríveis! 

Assim, listamos por aqui algumas informações importantíssimas na hora de fumar seu beck, utilizar seu óleo, ou preparar aquele delicioso cookie mágico.

Da Flor de cannabis ao Caule

Que a flor da planta de cannabis é valorizada por suas finalidades recreativas e medicinais já estamos familiarizados. Já o caule, ou haste, tem sua aplicação voltada para fins industriais, como a produção de fibras de cânhamo. E não podemos esquecer das sementes, utilizadas tanto na alimentação quanto em produtos, como o óleo de cânhamo.

Como o corpo reage ao consumir cannabis

Como consumimos cannabis pode determinar como nosso corpo reage a ela. Ao inalar sua fumaça, os compostos rapidamente entram na corrente sanguínea, atingindo o cérebro em questão de segundos ou minutos. Já ao ingerir produtos à base de cannabis, o processo é mais lento, passando primeiro pelo sistema digestivo.

O consumo de maconha pode causar efeitos imediatos, como alterações na percepção e aumento da frequência cardíaca. A longo prazo, o fumo contínuo da erva pode levar a problemas respiratórios e outros riscos à saúde.

Impacto no sistema respiratório

Assim como o tabaco, a fumaça da cannabis contém substâncias tóxicas que podem irritar os pulmões. Fumantes frequentes podem apresentar tosse, produção de catarro e risco aumentado de bronquite. Além disso, a cannabis pode agravar doenças respiratórias preexistentes. Embora haja substâncias cancerígenas na fumaça da planta, ainda não há evidências conclusivas de que ela cause câncer de pulmão.

Cannabis na circulação, uma jornada pelo corpo

Ao ser inalado, o THC, principal componente ativo da cannabis, rapidamente se desloca dos pulmões para a corrente sanguínea, circulando pelo corpo. Em questão de minutos, pode provocar um aumento significativo na frequência cardíaca, com duração de até três horas. Esse aumento da demanda de oxigênio no coração pode ser preocupante para quem já tem problemas cardíacos. 

Um dos sinais visíveis — literalmente — do consumo recente da maconha são os olhos avermelhados, resultado da dilatação dos vasos sanguíneos. Além disso, o THC pode reduzir a pressão ocular, aliviando temporariamente os sintomas do glaucoma, embora mais estudos sejam necessários para confirmar seus benefícios a longo prazo.

Efeitos da cannabis no Sistema Nervoso Central

A cannabis tem um impacto notável no sistema nervoso central. Ela é conhecida por aliviar dores, inflamações e controlar espasmos e convulsões. No entanto, o THC também faz o cérebro liberar grandes quantidades de dopamina, o que pode resultar em uma sensação de euforia, a depender do caso. Esse ciclo de dopamina pode ser uma das razões para o desenvolvimento de transtornos relacionados ao uso da cannabis em alguns indivíduos. 

O consumo excessivo pode afetar áreas do cérebro responsáveis pela memória e coordenação motora, sendo necessária atenção dobrada em atividades potencialmente perigosas. Em doses muito altas, há usuários que já relataram alucinações ou delírios. 

Digerindo a cannabis


Ilustração: Sarah Rogers/The Daily Beast

Ao fumar maconha, alguns usuários recreativos podem experimentar uma leve ardência ou queimação na boca do estômago e na garganta durante a inalação. Quando consumida por via oral, a cannabis pode trazer desafios ao sistema digestivo. 

Embora o THC tenha propriedades que aliviam náuseas e vômitos, alguns consumidores frequentes relatam, ironicamente, que ele pode causar esses mesmos sintomas. 

 E quem nunca ouviu falar da famosa “larica”?

O THC frequentemente aumenta o apetite, o que pode ser benéfico para pessoas em tratamentos como a quimioterapia. No entanto, para quem busca emagrecer, esse efeito pode não ser tão bem-vindo, embora estudos indiquem que usuários de cannabis não apresentam maior risco de obesidade ou diabetes em comparação com não usuários.

Atenção na imunidade

Pesquisas com animais sugerem que o THC pode ter um efeito supressor no sistema imunológico. Teoricamente, isso poderia tornar o corpo mais vulnerável a doenças infecciosas. Por outro lado, para pessoas com condições autoimunes, onde o sistema imunológico é hiperativo, isso pode ser benéfico. 

No entanto, ainda precisamos de mais estudos, especialmente em humanos, para compreender completamente esses efeitos.

Efeitos a longo prazo da cannabis

A cannabis apresenta uma série de impactos ao longo do tempo, dependem de diversos fatores, como:

  • Método de consumo
  • Frequência de uso
  • Idade do consumidor
  • Quantidade consumida por vez

Alguns dos efeitos potenciais a longo prazo incluem:

  • Perda de memória
  • Problemas de concentração e memória devido à exposição intrauterina
  • Irritação pulmonar
  • Possível risco de câncer de pulmão, embora a pesquisa ainda não seja conclusiva
  • Desenvolvimento da síndrome de hiperemese canabinoide, que provoca náuseas e vômitos

A dependência da cannabis

Aqueles que consomem cannabis intensamente de uma forma frequente podem sentir o desejo de continuar usando mais e mais, despertando o alerta relacionado aos problemas físicos, mentais ou sociais que a erva pode causar.

Sentimentos ao reduzir ou cessar o uso da cannabis:

  • Irritados ou de mau-humor
  • Sentem náuseas
  • Dificuldades para dormir
  • Perda do apetite
  • Experimentam suor excessivo ou tremores
  • Possibilidade de diarreia

Tabaco na Mistura

Um detalhe importante: se você mistura tabaco ao preparar seus cigarros de maconha, também arrisca desenvolver (ou manter) uma dependência à nicotina.

Popularidade da cannabis

Atualmente, o consumo de cannabis está crescendo entre todos os grupos etários adultos, ambos os sexos e até entre mulheres grávidas. O grupo de 18 a 25 anos lidera as estatísticas de uso.

O mercado de cannabis nos Estados Unidos tem mostrado um crescimento impressionante. Em 2022, os americanos gastaram mais com cannabis legalizada do que com produtos como chocolate e cerveja artesanal, atingindo vendas superiores a US$ 30 bilhões. Esse aumento nas vendas não apenas superou as despesas com analgésicos, mas também evidenciou o potencial expansivo das lojas autorizadas a vender cannabis, conhecidas como “dispensaries”.

É importante ressaltar que o uso de cannabis em pessoas com menos de 25 anos, cujo cérebro ainda está em desenvolvimento, pode ter efeitos duradouros na cognição e memória. 

Legalidade e Mercado da cannabis

O mercado de cannabis nos Estados Unidos tem mostrado um crescimento impressionante. Em 2022, os americanos gastaram mais com maconha legalizada do que com produtos como chocolate e cerveja artesanal, atingindo vendas superiores a US$ 30 bilhões. 

Esse aumento nas vendas não apenas superou as despesas com analgésicos, mas também evidenciou o potencial expansivo das lojas autorizadas a vender cannabis.

Cannabis no Brasil — Um Mercado em Expansão

Não é apenas no exterior que a cannabis está ganhando destaque. No Brasil, a demanda por produtos medicinais à base de cannabis cresceu mais de 200% em 2023, em comparação com o ano anterior. 

A Associação Brasileira da Indústria de Canabinóides (BRcann) destacou o aumento da atuação de empresas e startups no desenvolvimento de produtos medicinais à base de cannabis, todos autorizados pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Desafios e Oportunidades para o mercado da cannabis

Apesar do crescimento promissor, o mercado brasileiro de cannabis enfrenta desafios. A importação de produtos e insumos ainda é a principal forma de acesso devido à proibição do cultivo local, o que eleva os preços e limita a variedade de produtos disponíveis. No entanto, a conscientização sobre os benefícios medicinais da cannabis está abrindo portas para um futuro promissor no setor. 

Enquanto navegamos pelas águas promissoras do mercado de cannabis, é essencial não perder de vista os efeitos colaterais associados ao seu consumo. 

Assim como qualquer substância, a cannabis tem seus benefícios e riscos. A conscientização sobre seu uso responsável é crucial para garantir que os benefícios superem os potenciais desafios. Ao equilibrar as oportunidades econômicas com a saúde e o bem-estar dos consumidores, podemos trilhar um caminho sustentável e seguro para o futuro da cannabis no Brasil.

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