Espasmos musculares acontecem por vários motivos como o stress, mas também pode ser sintoma de algumas disfunções neurológicas. Entenda como a cannabis ajuda a aliviar os espasmos musculares.

Espasmos musculares ocasionalmente afetam a maioria das pessoas sem interferir prejudicialmente em suas vidas. Porém, alguns distúrbios, doenças e síndromes também podem causar espasmos musculares, por exemplo, a epilepsia.

A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes,gerando convulsões, chamadas “crises epiléticas”. Existem diferentes tipos de epilepsia e os sintomas são variados.

Além da epilepsia, outras doenças podem causar espasmos musculares, como por exemplo, fibromialgia, esclerose múltipla, Parkinson, e até mesmo diabetes.

E o que a maconha tem a ver com isso?

A maconha medicinal vem sendo estudada para o tratamento de espasmos musculares, devido ao seu alto poder relaxante. Neste artigo você encontrará informações sobre um tratamento complementar e alternativo com Cannabis para os espasmos musculares e entender quais doenças podem ser tratadas com o canabinol.

Mas afinal, o que são espasmos musculares?

Os espasmos musculares podem acontecer normalmente durante o cotidiano de um indivíduo saudável em diferentes ocasiões. Se trata de um dos mecanismos naturais de resposta protetora do organismo.

O espasmo muscular é a contração involuntária das fibras musculares, músculos ou um grupo de músculos e geralmente acompanhada de dor localizada. Os espasmos musculares são uma das causas mais comuns de dores nas costas, mas podem acontecer em diferentes partes do corpo, por exemplo, nos olhos. 

Quais são as causas dos espasmos musculares?

Os espasmos musculares podem ser provocados por várias situações, por exemplo:

  • Stress
  • Sobrecarga muscular;
  • Má qualidade do sono;
  • Traumas;
  • Estiramento de músculos ou ligamentos;
  • Fratura;
  • Atividade física intensa;
  • Desidratação durante exercícios prolongados;
  • Gravidez, devido às alterações posturais e redução dos níveis de cálcio;
  • Deficiência de minerais e vitaminas;
  • Hipoglicemia.
  • Medicamentos como alguns antidepressivos

Espasmos musculares decorrentes da Epilepsia

A epilepsia é uma doença cerebral crônica caracterizada pela recorrência de crises epilépticas periódicas e imprevisíveis. Durante essas crises epilépticas ocorrem os espasmos musculares.

De fato, a epilepsia é uma das doenças que mais causa espasmos musculares, portanto temos um tópico especial para ela neste artigo.

A epilepsia tem consequências neurológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica diretamente a qualidade de vida do indivíduo afetado.

A constante ocorrência de crises epilépticas pode prejudicar gravemente a qualidade de vida do paciente, causando danos cerebrais, especialmente no período de desenvolvimento. Portanto, o tratamento da epilepsia visando o controle das crises convulsivas é extremamente importante.

Os medicamentos anticonvulsivantes disponíveis atualmente não são capazes de promover a cura da doença, porém, indicados para controlar a repetição das crises convulsivas, ou seja, promover qualidade de vida.

Em muitos casos, o contrário acontece e muitos pacientes epilépticos apresentam resistência ao tratamento farmacológico. É o que chamamos de “epilepsia refratária ou farmacorresistente”.

Se você sofre de espasmos musculares, ou conhece alguém com essa condição, saiba que há um tratamento que pode evitar e aliviar esse sintoma! Veja a seguir:

Como a maconha é utilizada no tratamento dos espasmos musculares?

É importante notar a diferença entre espasmos musculares causados por doenças neurológicas daqueles causados por doenças relacionadas ao próprio músculo. O tratamento proposto aqui é relacionado aos espasmos musculares causados por doenças neurológicas, pois a maconha age no sistema nervoso, e não no sistema muscular.

Alguns pacientes têm efeitos adversos dos medicamentos anti-espásticos convencionais, como por exemplo sedação excessiva, confusão e alucinação. Para outros, a espasticidade persiste apesar do tratamento.

O valor medicinal da Cannabis, popularmente conhecida como maconha, vem sendo objeto de estudo pela comunidade médica. Os princípios ativos da maconha, chamados canabinóides, possuem muitas propriedades farmacológicas, tais como analgésica, antiemética, antioxidativa, neuroprotetora e anti-inflamatória.

O canabidiol, ou CBD, é um composto abundante na maconha, não-psicoativo, que constitui aproximadamente 40% das substâncias ativas da planta. O óleo de CBD vem sendo usado para tratar transtornos de ansiedade, depressão, esquizofrenia, infecções, diabetes, esclerose múltipla e epilepsia.

Qual a forma de atuação da Cannabis?

Para entender melhor como os canabinóides atuam no corpo humano, é preciso entender algo chamado sistema endocanabinóide.

O sistema endocanabinóide é o nome de uma série de receptores celulares que respondem a certos tipos de substâncias. Dois receptores primários de células compõem o sistema: receptor canabinóide 1 (CB1) e receptor canabinóide 2 (CB2). As chaves para esses receptores são chamadas de endocanabinóides, ou canabinóides. Os receptores canabinóides respondem a vários canabinóides e, por sua vez, produzem efeitos distintos dentro do corpo.

Os canabinóides mais utilizados no tratamento de epilepsia, principalmente nos pacientes que apresentam quadros refratários (que não respondem ao tratamento) aos medicamentos convencionais, são o THC e o CBD.

O canabidiol (CBD) é um poderoso anti-inflamatório com algumas propriedades anticonvulsivantes, e o tetra-hidrocanabinol (THC) é um anticonvulsivo potente e composto anti-espasmódico. Estes compostos trabalham em sinergia no combate às crises epiléticas.

O relatório de 1999 do Instituto de Medicina dos Estados Unidos já havia sugerido evidências de que os receptores canabinóides CB1 e CB2 estariam envolvidos no controle de espasmos musculares associados a crises de epilepsia. Foi concluído que os compostos ativos da cannabis são potencialmente eficazes no tratamento de condições neurológicas e, portanto, deveriam ser testados rigorosamente em ensaios clínicos.

E o que dizem os ensaios clínicos? Vamos entender o que dizem as pesquisas científicas sobre o tema.

Pesquisas científicas sobre o tratamento de espasmos musculares com Cannabis

Espamos musculares e cannabis medicinal
Créditos da imagem: TheWeedBlog

Um estudo conduzido na Inglaterra teve como objetivo avaliar a eficácia do óleo de CBD para tratar convulsões resistentes a medicamentos em pacientes portadores da síndrome de Dravet. A síndrome de Dravet é um distúrbio epiléptico infantil associado a convulsões severas e a uma alta taxa de mortalidade. Os resultados sugeriram que o tratamento com óleo de canabidiol resultou em uma redução maior na frequência de convulsões, quando comparado ao tratamento placebo.

Em 2010, pesquisadores comprovaram efeito benéfico da Cannabis inalada na ocorrência de muitos espasmos, entre os pacientes que não demonstraram melhora significativa com os tratamentos tradicionais. O estudo realizado foi controlado por placebo e envolveu pacientes adultos com esclerose múltipla e espasmos musculares.

Outros estudos foram focados em espasmos musculares em crianças, especialmente relacionados à síndrome de Dravet, aos espasmos infantis (IS) e à Síndrome de Lennox-Gastaut (SLG). Oitenta e cinco por cento dos pais relataram uma redução na frequência de crises espasmódicas, e 14% relataram total não ocorrência dessas crises.

Esses resultados sugerem que o canabidiol é seguro, eficaz e bem tolerado, destacando assim o seu potencial como uma nova opção de tratamento para espasmos epilépticos.

Conclusão

O THC/CBD é aprovado em vários países, incluindo Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, como um tratamento adicional para a melhora dos sintomas em pacientes com espasmos musculares moderados e graves devido à epilepsia.

Mesmo assim muitas famílias não recorrem aos canabinóides devido ao preconceito e à falta de informação.

O tratamento é aprovado quando pacientes não respondem adequadamente a outros medicamentos antiespasmódicos (que combatem espasmos) e que demonstram melhora significativa dos sintomas relacionados à espasticidade durante uma tentativa inicial de terapia.

Infelizmente, no Brasil ainda não é possível recomendar a maconha para o tratamento de epilepsia. É necessária a aprovação da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para importar o produto, e não se trata de um processo simples, mas cada vez mais associações e grupos anti proibicionistas estão lutando e garantindo o acesso de maconha medicinal aos pacientes.

Apesar do CBD ainda não ter registro na ANVISA, seu uso pode ser liberado por meio do chamado uso compassivo, ou seja, a prescrição de uma substância destinada a pacientes com doenças graves e sem alternativa de tratamento com produtos já registrados. Porém, a prescrição compassiva limita-se aos profissionais especializados em neurologia, neurocirurgia e psiquiatria, previamente cadastrados no Conselho Regional de Medicina (CRM) e Conselho Federal de Medicina (CFM).

O documentário Ilegal (2014), disponível no Netflix, conta a história de Katiele Bortoli e Norberto Fischer que lutam pelo direito de usar a maconha medicinal no tratamento da filha. A criança é portadora da síndrome CDKL5, uma desordem genética rara que causa epilepsia grave e sem cura. Vale a pena conferir!

Aqui expomos alguns casos de sucesso no tratamento de espasmos musculares associados a epilepsia com maconha medicinal. É importante ressaltar que esse é um tratamento complementar, pois não cura efetivamente a epilepsia, mas promove melhora na qualidade de vida pela redução dos sintomas da doença e seus surtos.

Além de ajudar com espasmos musculares, a Cannabis já é comprovadamente usada no tratamento de diversas outras doenças. Por esse motivo, cada vez mais países estão mudando as políticas de drogas e regularizando o uso de maconha medicinal. Os usos medicinais da maconha fazem parte da história dessa planta e foram explorados por diferentes povos ao  longo do anos. 

Esperamos que a luta pelo direito ao acesso da maconha medicinal se torne cada vez maior e poderosa e um dia, que todos os humanos possam desfrutar das propriedades de cura desta medicina milenar.

FONTES

Watson S., Benson J.A. Jr, Joy J.E. (2000). Marijuana and medicine: assessing the science base: a summary of the 1999 Institute of Medicine report. Arch Gen Psychiatry. 57(6):547-52.

Orrin Devinsky, J. Helen Cross, Linda Laux, Eric Marsh, Ian Miller, Rima Nabbout, Ingrid E. Scheffer, Elizabeth A. Thiele, and Stephen Wright. (2017) Trial of Cannabidiol for Drug-Resistant Seizures in the Dravet Syndrome. Cannabidiol in Dravet Syndrome Study Group.

Jody Corey-Bloom, Tanya Wolfson, Anthony Gamst, Shelia Jin, Thomas D. MarcotteHeather Bentley, and Ben Gouaux. Smoked cannabis for spasticity in multiple sclerosis: a randomized, placebo-controlled trial. (2010) CMAJ. 184(10): 1143–1150.

Hussain S.A., Zhou R., Jacobson C., Weng J., Cheng E., Lay J., Hung P., Lerner J., Sankar R. (2015). Perceived efficacy of cannabidiol-enriched cannabis extracts for treatment of pediatric epilepsy: A potential role for infantile spasms and Lennox-Gastaut syndrome. Epilepsy Behav, 47:138-41.

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