O uso do óleo de cannabis para o tratamento do autismo vêm se mostrando um tratamento promissor. Entenda como o cannabidiol se posiciona como um grande aliado, principalmente quando falamos de autismo infantil.


Sumário

  1. Mas você sabe o que é autismo?
  2. Sintomas mais comuns do autismo
  3. Como a medicina convencional lida com autismo?
  4. A cannabis no alívio dos dos sintomas de pessoas com autismo
  5. Benefícios da cannabis no tratamento do autismo
  6. Descaso do Estado brasileiro com pessoas autistas
  7. A riqueza substancial da Cannabis é uma aliada, não uma inimiga

A atmosfera do autismo ainda não é clara. Apesar de ser uma condição mais ou menos comum — e cada ano que passa, com maior prevalência — as pesquisas científicas jamais compreenderam totalmente a causa. 

No mesmo sentido, a tradicional medicina alopática não tem sucesso absoluto nos tratamentos que sugere. 

No entanto, como tratamento para o autismo, a cannabis vem se provando uma aliada na melhoria da qualidade de vida das pessoas. 

Não por menos, cada vez mais aumenta o interesse da cannabis como uma possível aliada no tratamento do autismo. 

Vários estudos e relatos estão explorando os efeitos terapêuticos da cannabis em pessoas com autismo e os resultados têm sido ecorajadores. 

De forma geral, os benefícios terapêuticos da maconha para o autismo incluem redução de ansiedade, de comportamentos autolestivos e a regulação do sono. 

Crianças mais calmas e com mais habilidades sociais, que olham nos olhos de familiares pela primeira vez. Incrível, não é?

Com o objetivo de dar luz a esse tema, o objetivo desse artigo é explicar como e porque a cannabis é uma aliada no tratamento do autismo. 

Mas você sabe o que é autismo?

Antes de tudo, tenha em mente: autismo não é doença. O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é, como o próprio termo avisa, um transtorno de desenvolvimento cognitivo que compromete as habilidades de comunicação e interação social de pessoas. 

Isso não quer dizer necessariamente que essa condição impeça o convívio social, tampouco a realização de tarefas cotidianas.

Conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-5, pessoas dentro do espectro podem manifestar padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.

Mas não se engane. Ainda que o nome seja “autismo infantil”, já que o diagnóstico é recorrente durante a primeira infância, os transtornos são condições permanentes que acompanham a pessoa vida afora.

Sintomas mais comuns do autismo

Quem possui o TEA pode imitar involuntariamente os movimentos de alguém. Também são corriqueiros vários tipos de repetição descoordenada, tanto de palavras como de movimentos. É comum terem também dificuldade de manter contato visual.

No aspecto do desenvolvimento, relata-se dificuldade geral no processo de aprendizagem. Um dos sinais preliminares é o atraso na fala já nos primeiros anos de vida. 

Em sua dimensão cognitiva, o autista enfrenta certo entrave para manter o foco, além de demonstrar interesse em um número reduzido de temas. 

Psicologicamente, pode não reconhecer emoções alheias e sofrer de depressão e ansiedade.

Em graus mais leves, o autismo pode até passar despercebido por pais e tutores. É importante ter em conta que o transtorno se revela de maneiras distintas, sem um padrão exato. 

Todas as pessoas com autismo partilham dificuldades, mas cada uma, a seu modo, se afeta em graus de intensidade diferentes.

A intensidade, a quantidade e a combinação de sintomas se relaciona ao universo particular da pessoa. 

Isso nos dá pistas do porquê testemunharmos histórias de pessoas com o espectro que são excepcionais em um assunto ou habilidade, enquanto outras sofrem com retardos expressivos no desenrolar psicossocial e motor.

Por muitos anos, existem limites nas opções de tratamento para o autismo e cientistas estão buscando constantemente novas abordagens para ajudar pessoas que vivem com essa condição.

Como a medicina convencional lida com autismo?

Medicamentos Para Autismo
Fonte: Hospital Semedis

Ainda assim, até hoje, o TEA permanece sem um tratamento específico. Insiste-se na receita de antidepressivos, antipsicóticos, anticonvulsivantes e estimulantes.

Ainda que esses remédios desencadeiem efeitos colaterais desagradáveis, como, por exemplo, o ganho excessivo de peso causado por um antipsicótico muito utilizado.

O maior problema nesse tipo de tratamento é, sobretudo, porque os pacientes pecisam da administração de diversas substâncias em altas dosagens por longos anos. 

O tratamento além das medicações é muito importante também, terapias com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais garantem melhor integração das pessoas na sociedade e asseguram maior qualidade de vida.

Dadas as consequências negativas principalmente dos ‘tarja preta’, há algum tempo, as pesquisas passaram a considerar outras opções menos agressivas ao organismo. Nesse ponto, a maconha é uma ótima candidata.  

Enquanto os antidepressivos agem com a interrupção de transmissões neuroquímicas e com o controle da reabsorção de serotonina e dopamina, a cannabis interage naturalmente com os neurotransmissores e equilibra a sua atuação no organismo, o que apazigua a excitação neuronal excessiva.

A cannabis no alívio dos dos sintomas de pessoas com autismo

Recentemente, o interesse no uso de cannabis como uma forma de aliviar os sintomas do autismo cresceu.

Estudos e pesquisas científicas revelaram sintomas promissores sobre o potencial terapêutico da planta para o tratamento dessa condição.

Benefícios da cannabis no tratamento do autismo

Os principais benefícios da cannabis no tratamento do autismo são:

Redução da ansiedade

Alguns estudos indicam que certos compostos da cannabis, como o CBD (canabidiol), podem ajudar a reduzir os níveis de ansiedade em indivíduos com autismo.

Isso pode resultar em uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas e de suas famílias.

Melhora na comunicação

A cannabis também oferece melhorias na comunicação verbal e não-verbal em pessoas com autismo. 

Essa melhora na capacidade de se expressar e se comunicar pode abrir novas oportunidades de interação social e desenvolvimento pessoal.

Controle de Comportamentos Repetitivos

Outro benefício potencial é a redução dos comportamentos repetitivos, característicos do autismo. 

Alguns estudos sugerem que certos compostos da cannabis podem ajudar a modular esses comportamentos, proporcionando uma maior sensação de calma e equilíbrio.

Descaso do Estado brasileiro com pessoas autistas

Conforme um levantamento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, uma agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, a prevalência de pessoas com autismo tem aumentado com o passar dos tempos. 

Se em 2004, 1 pessoa em 166 tinham o TEA, em 2023 este número está na casa de 1 a cada 36, esse dado foi analisado em crianças com 8 anos de idade, o equivalente a 2,8% daquela população.

No Brasil, não há números oficiais. Se trouxermos a proporção do estudo anteriormente citado pra cá (2,8%), teríamos aproximadamente 6 milhões de pessoas com o TEA. Uma questão de saúde pública, portanto. 

O acesso indiscriminado à cannabis (lembremo-nos: simplesmente uma planta) é um direito à vida.

Atualmente, a maconha medicinal está fora da lista de substâncias proibidas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e agora médicos podem receitar e farmácias podem comercializar o extrato de cannabis com CBD sem carecer de autorização judicial.

No entanto, a não liberação do cultivo da Cannabis atrapalha milhares de famílias que dependem da maconha terapêutica. 

O plantio reduziria a burocracia e baratearia o processo. Mas a legalização da maconha caminha a passos lentos no nosso país, sempre na contramão do mundo.

Os avanços vêm a conta-gotas. Em junho de 2020, por exemplo, um casal de Campinas, no interior paulista, conseguiu aval do Tribunal de Justiça de São Paulo para cultivar maconha para fins medicinais. 

Eles são pais de duas crianças, de 7 e 10 anos de idade, diagnosticados com TEA. Com o uso do óleo de Cannabis desde abril daquele ano, manifestaram melhoras significativas. 

Mas precisamos de mais histórias felizes, precisamos de mais pessoas conseguindo realizar o tratamento do autismo com a cannabis.

A ciência aposta na cannabis como tratamento para o autismo

Um estudo recente, publicado em 2023 por médicos brasileiros, analisou 20 pacientes que receberam tratamento com a cannabis em diferentes dosagens.

Isso é bastante importante. Afinal de contas, cada pessoa responde melhor com uma dose especifica. É necessário o acompanhamento de um profissional da saúde para fazer esse ajuste. 

Esses tratamentos foram fornecidos por associações que produzem produtos derivados da planta de forma legal no Brasil.

Como resultado, alguns dos principais sintomas, como déficits de comunicação e interação social, problemas de sono, convulsões, além da qualidade de vida do paciente e família melhoraram em pelo menos 77% dos casos. 

Além do mais, 53% dos pacientes tiveram melhora no desempenho intelectual e cognitivo. 

É importante destacar que não existe outro tratamento com medicamentos que melhora esse aspecto recorrente do TEA, que demanda maior grau de suporte.

Os efeitos colaterais foram inexistentes na maioria dos casos. Quando existiam, eram leves e temporários.

Estudos com CBD e THC

Outro estudo mostrou que as moléculas derivadas da maconha, o CBD e o THC, em  devidas proporções em extratos oleosos, desencadeiam uma melhora considerável (de mais de 30%) em pelo menos um grupo importante de sintomas. 

É o que apresenta um pequeno estudo brasileiro, de 2019, da Universidade de Brasília (UnB), publicado na revista Frontiers of Neurology, em observância a 18 pacientes ligados à associação Ama-me. As conclusões são animadoras.

Entre os benefícios, pesquisadores tomaram nota da diminuição expressiva do número de convulsões, da melhora no déficit de atenção e hiperatividade, no sono, na comunicação e na interação social. 

Alguns dos examinados prosperam notavelmente em até quatro desses grupos de sintomas ao mesmo tempo.

Pesquisa em Israel

Outro estudo publicado em 2019, feito com 60 pacientes, em Israel encontrou semelhanças positivas às pesquisas anteriores.

A partir disso, não titubearam em prosseguir com testes clínicos de maior escala, em busca de resultados confiáveis para beneficiar o tratamento com cannabis para o autismo de quem não pode (nem deveria) esperar. 

Tanto no Brasil quanto em Israel, concordou-se que os benfazejos são uma exclusividade da Cannabis. Nada na farmácia convencional chega aos pés da ação do extrato de maconha para o controle do TEA.

Outros estudos sobre tratamento de sintomas de autismo com Cannabis

É por volta dos dois anos de idade que os genitores notam os primeiros lapsos comuns à condição autista: introspecção, agressividade e dificuldade de comunicação. 

Mas, como contei no início deste artigo, pairam mistérios sobre o autismo. Nesse encalço, dois dos autores do estudo brasileiro, um neurobiólogo e um médico, também pais de crianças com autismo, inquietam-se frente à falta de respostas da ciência e da medicina à pergunta fundamental: “O que acarreta o autismo?”.

Pouco a pouco, a dupla tem se aproximado do reforço da “hipótese do mundo intenso”, teoria suíça do século passado pela qual se infere que os distúrbios aguçados pelo autismo seriam fruto do excesso de estimulação dos neurônios, como ocorre no quadro epilético. 

Daí entra em cena o Sistema Endocanabinóide (SEC), alvo químico da maconha, que opera justamente um mecanismo para tranquilizar as células cerebrais ante uma demasiada excitação, cessando o ataque.

Outra pesquisadora, Adit Shankardass, descobriu focos cerebrais de atividade epileptiforme em crianças autistas, as quais batizou de “hidden seizures” (em tradução livre: “convulsões escondidas”). 

Como se pode inferir pela própria denominação, a tese elucidaria porque, mesmo na ausência de ataques e convulsões, perdura a incapacidade de conexão com o mundo exterior por estas crianças.

A engrenagem endocanábica respalda o sucesso de fármacos à base de maconha para sanar convulsões, que, em linhas gerais, se tratam de curtos-circuitos neuronais. 

Para quem acompanha a discussão científica e os relatos de muitas mães, já se tinha ideia de que autistas que convulsionam provam benefícios pelo uso da Cannabis.

Investigações anteriores feitas com pacientes epilépticos, que também eram autistas, demonstraram efeitos positivos, o que justificaria sondar se a planta serviria como alternativa de recurso terapêutico para o segundo problema, já que a epilepsia também é caracterizada por um excesso de atividade dos neurônios.

O que não se tinha ideia é de que a Cannabis também alivia vários outros sintomas. Só no ano de 2018, cientistas italianos deram aval à hipótese quando concluíram que cérebros autistas sofrem com uma espécie de inflamação constante, ora abrandada por ações no Sistema Endocanabinóide (SEC). 

Como se sabe, o SEC modula uma gama de processos fisiológicos, como dor, inflamação, termorregulação, controle muscular, metabolismo, qualidade do sono, resposta a estresse… Fantástico, não?

CBD para tatamento de sintomas de autismo em crianças
Fonte: Educate Inspirate Change

A riqueza substancial da Cannabis é uma aliada, não uma inimiga

Cannabis para tratamento de autismo Infantil
Fonte: Vice

O canabidiol (CBD), um dos componentes da cannabis, tem virado um grande aliado para o tratamento de sintomas de autismo, principalmente quando se trata de autismo infantil. 

Muito se acredita que o remédio para o autismo é o CBD puro, um dos componentes da Cannabis. 

Até por não causar o “barato” experimentado com o THC, o canabidiol é menos estigmatizado. 

Mas cientistas, tanto do Israel quanto do Brasil, têm concluído que, sem THC, o tratamento com Cannabis (CBD) para o autismo não funciona ou funciona insatisfatoriamente. 

Os canabinóides como um todo, em especial o THC, têm um papel relevante na regulação sensorial.

A isso chamamos de “efeito comitiva”, a planta agindo em conjunto com todos seus componentes, como os canabinóides, terpenos e flavonóides

Isso permite uma melhor ação, mais rápida, em menor dosagem e com menos efeitos colaterais. 

Enquanto nos testes israelenses os cientistas apostam na proporção de CBD para THC de 20:1, no segundo estudo brasileiro citado esta se limita a 75:1. 

O intercâmbio de dados obtidos em ambos lados levou um dos brasileiros a suspeitar de que, com mais THC, os resultados são melhores e mais rápidos. 

O que é comprovado no estudo brasileiro mais recente, que tem como média uma proporção de 7:1.

Inclusive no cuidado com o próprio filho, o professor Renato Malcher-Lopes, do Departamento de Ciências Fisiológicas da UnB, pondera as variáveis e averigua que, ausente o THC, as doses de CBD precisam ser demasiadamente altas, a ponto de reverberar efeitos colaterais indesejáveis.

Consumo de maconha na gravidez pode ser faca de dois gumes

Em agosto de 2020, um estudo canadense gerou burburinho na comunidade canábica mundial. Difundido na revista científica Nature Medicine, a pesquisa da Universidade de Ottawa alertou para o uso de cannabis durante a gravidez

Conforme a publicação, o consumo recreativo da maconha poderia causar autismo no bebê.

Os pesquisadores assimilaram diagnósticos de condições de neurodesenvolvimento, como o autismo, em mais de 500.000 crianças nascidas entre 2007 e 2012 em Ontário, no Canadá. 

Fizeram-no por meio de um registro de nascimento para identificar as mães que usaram cannabis durante a gravidez.

No check-in do primeiro trimestre, 0,6 por cento das mães entrevistadas assinalaram que sim. 

Do meio milhão de crianças registradas, 7.125 foram diagnosticadas com autismo, e sua prevalência foi maior entre crianças nascidas de mulheres que usaram Cannabis durante a gravidez (2,22%, em comparação com 1,41% entre as mulheres que não fizeram o uso).

Mas não é caso para desespero. Historicamente, a pesquisa científica concentra esforços na predisposição genética. Mutações espontâneas que podem ocorrer no desenvolvimento do feto bem como a herança genética passada de pais para filhos são analisadas.

Por outro lado, já ficou evidente que as causas hereditárias explicariam apenas metade do risco de desenvolver TEA. 

Fatores ambientais que impactam o feto, como estresse, infecções, exposição a substâncias tóxicas, complicações durante a gravidez e desequilíbrios metabólicos teriam o mesmo peso na possibilidade de aparecimento do distúrbio.

Os autores do estudo reivindicam uma interpretação cautelosa dos resultados, afinal a associação surgiu por meio de uma balanço de registros de nascimento, não de um estudo controlado, a exemplo dos citados primeiramente no post. 

De acordo com os cientistas, a pesquisa não teria todos os dados necessários para se inferir uma comprovação. Entretanto, claro, é primordial ter cautela.

Como vimos aqui, o potencial benéfico da cannabis para o tratamento do autismo é generosamente grande. 

É preciso disseminar a informação para que a Cannabis sativa saia da penumbra da marginalidade e ascenda como uma esperança tangível para tantas famílias. 

Somente dessa forma, por pressão popular, podemos provocar mudanças significativas na legislação do Brasil.

cannabis na gravidez
Fonte: USP

Considerações Finais

Embora seja necessário aguardar por mais evidências científicas, a cannabis apresenta um potencial promissor no tratamento do autismo. 

É importante destacar que qualquer decisão referente ao uso da cannabis no tratamento de condições médicas deve ser tomada em consulta com profissionais de saúde especializados e considerando as legislações locais.

Como a pesquisa continua avançando, esperamos que mais informações sejam reveladas, proporcionando uma maior compreensão dos benefícios terapêuticos da cannabis no tratamento do autismo e, assim, oferecendo novas perspectivas para aqueles que vivem com essa condição.